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O Copom pode não elevar a Selic na próxima reunião

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Por Redação
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Sem entrar no mérito da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), é possível afirmar que "em outro tempo" ela não teria sido a de manter a taxa Selic em 8,75%. O fato de essa decisão ter sido tomada com apertada maioria está dando a impressão de que, na reunião de abril, o Copom optará por uma elevação da taxa de juros básica ? pelo menos se não houver mudança dos membros que compõem o organismo.Para justificar sua posição, o Copom poderá recorrer a diversos argumentos. O Conselho Monetário Nacional tomou a iniciativa de reduzir a liquidez do sistema financeiro ao aumentar o recolhimento compulsório sobre os depósitos, o que per se teve o efeito de aumentar a taxa de juros. O Banco Central (BC) reduziu suas compras de divisas no mercado cambial, favorecendo, desse modo, uma redução de preços dos produtos importados, num momento em que a indústria nacional não estará plenamente aparelhada para responder a um novo crescimento da demanda, o que contribuirá para conter o atual aumento dos preços. A retomada da inflação parece ter um caráter sazonal, o que justifica que se aguarde a próxima reunião do Copom para verificar o fundamento dessa interpretação.Finalmente, se é verdade que o presidente Lula negociou essa trégua com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comprometendo-se a reduzir os gastos de custeio, é mais uma razão para que se aguarde ainda a próxima reunião do comitê para verificar se o compromisso do governo se concretizou.De qualquer maneira, essa decisão tem um viés político que poderia ter sido evitado se, como sugerimos, o presidente do BC tivesse apresentado sua demissão no momento em que se filiou ao PMDB com projetos de natureza eleitoral.Até agora o Copom tomava suas decisões em razão da ameaça de inflação futura, que a Pesquisa Focus deixou clara. Existe o perigo de se decidir tarde demais, embora as entidades de classe pretendam comprovar que o controle da inflação pode ser cumprido sem elevação da Selic.Muitos ficarão satisfeitos em considerar que o aumento será realizado na próxima reunião das autoridades monetárias. Mas nesse ponto é preciso ser muito prudente. Com efeito, a composição do Copom poderá ser diferente da atual. Parece certa a saída de Mário Mesquita e de Henrique Meirelles, que, se continuar com projetos eleitorais, terá de apresentar sua demissão antes da próxima reunião do Copom ? o que pode ser um pretexto para Lula mudar os diretores do BC em vista das eleições.