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O crédito como sinal vital

A expansão dos financiamentos continua mostrando uma economia com atividade maior que no ano passado

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Por Redação
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Importante sinal vital, a expansão dos financiamentos continua mostrando uma economia com atividade maior que no ano passado, quando o País começou a sair da recessão e a retomar o crescimento - primeiro estágio de superação dos erros do governo passado. O saldo total do crédito aumentou 2,4% nos 12 meses até julho, segundo o Banco Central (BC). Foi a maior variação desse tipo registrada desde abril de 2016, quando a taxa apurada chegou a 2,6%. No crédito livre, o aumento alcançou 7,7% em 12 meses, no melhor desempenho verificado desde setembro de 2013. “Estamos recuperando o ritmo de cinco anos atrás”, resumiu o chefe adjunto do Departamento de Estatísticas do BC, Renato Baldini. Há cinco anos, poderia ter lembrado o economista, a indústria já estava derrapando e o Brasil começava a deslizar para o atoleiro da retração econômica e do desemprego.

Assim como os dados da produção industrial, do consumo familiar, do investimento e do emprego, os dados do crédito confirmam, seguidamente, avanços em relação ao ano anterior. Em julho, o estoque total das operações de crédito foi 0,2% menor que em junho, mas 2,4% superior ao do mês correspondente de 2017. No ano, o crescimento chegou a 1,1% e o saldo atingiu R$ 3,12 trilhões, soma equivalente a 46,4% do Produto Interno Bruto (PIB), pouco abaixo da proporção de junho (46,8%).

A evolução do crédito nos próximos meses dependerá em boa parte do quadro eleitoral, fator essencial para a formação das expectativas dos dirigentes de empresas, dos agentes do mercado financeiro e dos consumidores. Em agosto, o Índice de Expectativa do Consumidor subiu 3,1% em relação a julho e atingiu 104,7 pontos, o maior nível desde maio de 2016, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Com duas altas consecutivas, o indicador reverteu a queda de junho, quando empresas e famílias ainda sofriam os efeitos da paralisação do transporte rodoviário no mês anterior. A paralisação do principal sistema de transporte de carga havia afetado o abastecimento de mercados, o suprimento de matérias-primas e a circulação de mercadorias acabadas.

Com a normalização do movimento nas estradas, o susto passou e as expectativas melhoraram, mas o consumidor, embora mais animado, mantém cautela quanto a compras de alto valor, segundo a pesquisa. Esse foi o único item com índice inferior ao de julho. Mas falta conferir - e este é o ponto mais importante neste momento - se a melhora das expectativas poderá resistir ao avanço da campanha eleitoral.

A redução do saldo de crédito de junho para julho foi um fato sazonal, segundo Renato Baldini. O estoque do financiamento para pessoas jurídicas diminuiu 1%, enquanto o destinado a pessoas físicas aumentou 0,5%. No crédito livre, as concessões de novos empréstimos para pessoas jurídicas foram 9,2% menor que em junho, ficando em 11,1% o aumento em 12 meses. No caso das pessoas físicas, as novas concessões aumentaram 3,1% e a variação em 12 meses chegou a 10,1%.

Os juros, ainda muito altos, continuaram em queda. A taxa média de todos os tipos de crédito, com operações livres e direcionadas, passou de 24,6% ao ano em junho para 24,5% no mês seguinte. Em julho de 2017 estava em 28,9%. Apesar das taxas elevadas, o recuo dos juros tem dado algum fôlego às empresas, como já reconheceu a CNI, e facilita o consumo.

A redução dos juros básicos, iniciada em outubro de 2016, tem favorecido a atividade econômica e diminuído o custo da dívida governamental. Se a insegurança política aumentar e se crescer o risco da irresponsabilidade na gestão das contas públicas, pressões inflacionárias poderão tornar necessários juros mais altos. O BC tem repetido essa advertência.

Na pior hipótese, um governo irresponsável poderá interferir no BC e forçar a manutenção de juros abaixo do nível necessário ao controle da inflação. Políticas desse tipo já foram tentadas, sempre com resultados desastrosos. Uma repetição poderá ser ainda mais catastrófica. Lições da experiência, mesmo as mais claras, nem sempre são aprendidas.