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O crédito e a atuação do governo

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Por Redação
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No mesmo dia em que o Banco Central (BC) divulgava os dados do crédito do mês de fevereiro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciava diversas medidas para reduzir o spread dos bancos, aumentar a concorrência no sistema financeiro e permitir aos pequenos e médios bancos voltarem a ofertar crédito.Isso vem em hora oportuna, pois se o saldo dos empréstimos aumentou, chegando a 41,6% do PIB estimado, ante 41,5% no mês anterior, com crescimento de 0,7%, é preciso ver como esse crescimento foi atingido. O aumento se deveu essencialmente aos recursos direcionados, que cresceram 1,2%, com destaque para os do BNDES, cujas operações aumentaram 1,3%, enquanto os empréstimos com recursos livres apresentaram um recuo de 0,3%. Registra-se uma participação crescente das instituições públicas na distribuição de crédito, que, no período de um ano, passa de 11,8% do PIB para 15,4%, ante 15,2% e 17,6% das instituições financeiras nacionais; e 7,6% e 8,6%, respectivamente, das instituições estrangeiras. As primeiras são agora responsáveis por 37,1% do total de crédito distribuído e, a continuar essa tendência, ela poderá representar uma arma poderosa nas mãos do governo. Considerando apenas o crédito livre, que corresponde a 70,6% do total dos créditos, verifica-se que o saldo das operações para pessoas jurídica (PJ) cresceram apenas 0,3% em fevereiro e 1,1% para as pessoas físicas (PF). Todavia, para as concessões acumuladas no mês observa-se um quadro diferente: há recuo de 7,2% no crédito para as PJs e de 8,4% para as PFs, o que mostra que os bancos ainda não estão numa situação normal, ou têm medo de um aumento da inadimplência das PJs, que, com 2%, teve crescimento de 0,3 ponto porcentual (p.p.) enquanto a das PFs, com 8,3%, aumentou 0,1 ponto porcentual. Os bancos levaram em conta a redução da Selic: a taxa de juro e o spread, no caso das PFs, baixaram, respectivamente, de 55,1% para 52,7%, ao ano, e de 43,6 p.p. para 41,5 p.p.; no caso das PJs houve redução da taxa média de juros, de 31% ao ano, para 30,8%, mas um aumento de 0,1 p.p. do spread, que é de 18,9 p.p. - a maior participação dos bancos públicos não teve, pois, o efeito esperado. O governo procura imprimir na política de crédito seus objetivos políticos. O crédito às famílias e o crédito imobiliário têm prioridade e o do BNDES é para as empresas que são escolhidas. Espera-se dessa ação que não seja discriminatória.