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O crescimento da indústria

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Por Redação
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Com a contínua alta da produção e das vendas nos últimos meses, a atividade industrial no País já atingiu um nível muito próximo daquele registrado no início do segundo semestre de 2008, poucos meses antes da eclosão da crise financeira internacional, quando o clima dominante na economia brasileira ainda era de euforia. O risco, agora, é o de a euforia retornar com vigor redobrado, o que poderá exigir, mais tarde, alguma medida corretiva."O mercado interno retomou o vigor de antes da crise", comemorou o economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, ao comentar os indicadores industriais relativos a fevereiro divulgados pela entidade. A recuperação da indústria em âmbito nacional está sendo puxada por São Paulo, onde a atividade econômica é impulsionada pelo mercado doméstico, confirmou o economista da coordenação da área industrial do IBGE, André Machado, ao explicar o desempenho da indústria em fevereiro. O recorde de vendas de veículos novos no mercado interno em março, antecipado pelos revendedores e reiterado pelos fabricantes, reafirma a pujança da demanda.Há uma defasagem dos dados do IBGE e da CNI, referentes a fevereiro, em relação aos da Anfavea, de março. Mas todos deixam claro que a recuperação é forte, persistente e se estende por praticamente todos os setores, com alguns, como o automotivo, registrando desempenho excepcional.De acordo com o IBGE, no resultado acumulado do primeiro bimestre, a produção industrial de 2010 foi 17,2% maior do que a de 2009. Nos dois primeiros meses do ano passado, a atividade econômica do País sentia os efeitos mais intensos da crise internacional. Em 2010, como deixam claro os dados do IBGE, o crescimento é generalizado, tanto pelas 14 regiões pesquisadas como pelos setores industriais.Com base em outras informações, a pesquisa da CNI também mostra que a recuperação continua intensa. Os resultados de fevereiro referentes a vendas, horas trabalhadas e emprego são melhores do que os de janeiro, o que reforça a tendência de crescimento observada há alguns meses. Na comparação com o primeiro bimestre de 2009, o crescimento das vendas reais no primeiro bimestre deste ano é notável: de 10,1%. A massa salarial real cresceu 2,4% no acumulado dos dois primeiros meses de 2010, na comparação com igual período de 2009.A oferta de crédito para a aquisição de bens duráveis e a melhora da renda da população explicam a persistência da forte demanda interna. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre veículos e eletrodomésticos também estimulou o consumo. Mas nem mesmo o fim da redução do IPI sobre automóveis parece incomodar a indústria. A manutenção da produção de veículos em nível muito alto em março e a projeção da Anfavea de um aumento de 8% na produção deste ano demonstram que pelo menos esse setor industrial aposta na demanda interna aquecida também nos próximos meses.A manutenção por muitos meses da atividade industrial no nível observado no início de 2010 fortalecerá o argumento do Comitê de Política Monetária (Copom) para a elevação do juro básico da economia em suas próximas reuniões. Um dos dados que mais têm preocupado o Copom é o nível de utilização da capacidade instalada da indústria. Quanto mais alto o nível, maior é o risco de, por esgotamento da capacidade, a indústria elevar seus preços.O economista Flávio Castelo Branco, da CNI, não vê com preocupação esse risco. Ele argumenta que o nível de utilização da capacidade instalada da indústria em fevereiro foi igual ao de janeiro. Como a atividade industrial se intensificou de um mês para outro sem pressionar o uso da capacidade instalada, os investimentos feitos anteriormente em expansão começam a dar resultados práticos, raciocina. Os investimentos continuam sendo feitos, razão pela qual, na sua opinião, a indústria não gerará pressões inflacionárias nos próximos meses.Resta saber se esse argumento convencerá o Copom.