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O difícil combate ao PCC

Um novo ataque a empresas transportadoras de valores – o quarto em seis meses em São Paulo – , desta vez em Santo André, na madrugada de quarta-feira passada, deixa evidente tanto a ousadia dos bandidos

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Por Redação
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Um novo ataque a empresas transportadoras de valores – o quarto em seis meses em São Paulo –, desta vez em Santo André, na madrugada de quarta-feira passada, deixa evidente tanto a ousadia dos bandidos, que parece não ter limites, como a dificuldade das autoridades de segurança pública de prevenir e combater essas ações. Embora nessa última os criminosos tenham sido obrigados a recuar, nada levando, mesmo assim ela atingiu o que parece ser o seu outro objetivo – semear o pânico na vizinhança e chocar a opinião pública, dando com isso uma demonstração de força.

Pelo menos 30 bandidos fortemente armados com fuzis, metralhadoras, granadas e levando explosivos fecharam as ruas próximas e tentaram invadir a sede da empresa Protege. A reação dos vigilantes da empresa e a rápida intervenção da Polícia Militar impediram o roubo. Mas os bandidos só recuaram depois de um intenso tiroteio que durou cerca de 40 minutos. Para possibilitar a fuga, jogaram pregos retorcidos nas ruas, que depois de sua passagem foram bloqueadas com 11 carros e caminhões incendiados.

Houve pânico entre os moradores de um condomínio localizado em frente da Protege, atingido por disparos. O aparato montado pelos bandidos foi semelhante ao utilizado nos três assaltos anteriores – em março, em Campinas, também contra a Protege; em abril, em Santos; e em julho, em Ribeirão Preto, estes últimos contra a Prosegur. Em todos eles, segundo os vizinhos e a própria polícia, foram impressionantes as cenas dos assaltos.

Nos três primeiros, foram roubados mais de R$ 130 milhões. No último, em Santo André, além de nada ter sido roubado, a polícia ainda conseguiu prender, na tarde da quarta-feira, numa chácara em Itapecerica da Serra, oito suspeitos e apreender armas, munições e um dos carros blindados usados na ação. Mais armas, explosivos e coletes a prova de bala, que segundo a polícia pertencem ao mesmo grupo, foram encontrados numa casa no Jardim Ibitirama, na zona leste.

É de esperar que, com esse resultado, a polícia consiga avançar no esclarecimento dos quatro assaltos que, segundo o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Emygdio Machado Neto, estão ligados. A exemplo do que colegas seus do próprio Deic já haviam dito a respeito dessas ações, por ocasião do assalto em Ribeirão Preto, Machado Neto também vê nelas o dedo do Primeiro Comando da Capital (PCC). Para o delegado Fabiano Barbeiro, o PCC tem grupos especializados em cada aspecto desses crimes, que são reunidos e coordenados para executar os grandes assaltos.

A ligação do PCC com esses roubos parece óbvia. Não se conhece, pelo menos em São Paulo, nenhum grupo criminoso além dele que disponha da capacidade de organização, planejamento e mobilização de pessoal e recursos demonstrada nos quatro assaltos dos últimos meses. O fato de as altas autoridades da segurança pública ainda não terem apontado, de forma clara, o envolvimento direto do PCC com tais assaltos deve ser atribuído à dificuldade de admitir que essa organização criminosa está mais viva e forte do que nunca, ampliando e diversificando suas atividades.

Prova disso é a ação do Ministério Público Estadual, que denunciou à Justiça, em 2014, a relação do PCC com as vans da capital, usadas para lavar dinheiro das drogas – que já se transformou numa de suas principais fontes de renda –, e a do Ministério Público Federal que procedeu da mesma maneira com a sua ligação com a N’Draghetta, um do ramos da máfia italiana, também por tráfico de cocaína.

Como sempre, o primeiro passo para tentar resolver um problema é reconhecer realisticamente e sem rodeios o seu tamanho e a sua gravidade. É o que se tem de fazer com o PCC, que acaba de dar mais uma prova de sua força e sua audácia. Combatê-lo com a eficiência que se espera, muito maior que a demonstrada até agora, é uma tarefa difícil e longa. E que é preciso iniciar logo.