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O estado do mundo em 2013

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Por Rubens Barbosa
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Se comparadas com as de 2012, as perspectivas para o cenário político e econômico internacional em 2013 soam pouco animadoras. Na economia mundial não há motivos para otimismo exagerado. Os fluxos de capital continuarão reduzidos e, em função dessa limitação, o crescimento da economia global não deverá ultrapassar 3% e o do comércio internacional, 2,5%, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de outras agências. Nesse contexto de altos e baixos na economia em 2013, o preço das commodities continuará volátil, dependendo sobretudo da demanda da China e da desaceleração da Europa. A Europa deverá continuar com baixo crescimento, afetada pela crise econômica. Com a prevalência de políticas de austeridade, o Velho Continente continuará com baixas taxas de crescimento, gerando graves crises sociais pela pressão dos desempregados sobre os governos da Grécia, de Portugal, da Espanha e, quem sabe, até da França, para evitar mais arrocho. Em 2013, a união bancária e fiscal, com maior integração política e econômica, poderá consolidar-se, mas a eventual saída do Reino Unido poderá acarretar forte retrocesso para a União Europeia. Já a Ásia apresenta um cenário mais positivo. Na China, passado o efeito negativo da crise global, com a economia crescendo a 7,5% em 2012, as perspectivas são de volta ao nível de 8%-8,5% neste ano. Esse incremento deverá ser puxado pela expansão do seu mercado interno, favorecido pelos estímulos creditícios. A economia dos Estados Unidos, que dá sinais de recuperação, deverá crescer mais do que os 2% de 2012. A aprovação pelo Congresso do aumento de impostos e o acordo sobre a redução das despesas do governo evitaram um forte corte orçamentário e a ameaça de recessão. Com isso, a economia americana deverá fortalecer-se e, por conseguinte, será maior a confiança do setor privado. Com menos gastos (retirada das tropas do Iraque e significativa redução da presença militar no Afeganistão) e mais receita de impostos, afetando os mais ricos, e não a classe média, e com uma revolução na geração de energia a baixo custo (a partir de imensas reservas de xisto betuminoso), os Estados Unidos deverão começar um processo de reindustrialização, trazendo de volta empresas mais eficientes e aumentando o emprego. Os países emergentes, em especial os Brics, continuarão a contribuir para o crescimento da economia global. O cenário político internacional em 2013 está ainda incerto. Os Estados Unidos e a China começam o ano com novos governos e com boas perspectivas de recuperação econômica, mas com problemas sociais em razão das desigualdades de renda doméstica. É possível prever um gradual aumento da rivalidade entre as duas principais potências globais, como consequência da nova estratégia militar, política e comercial dos Estados Unidos. Essa nova política visa a reagir à cada vez mais visível presença chinesa na Ásia, no Mar do Sul da China e em outros continentes, como na América Latina e na África. O agravamento da crise no Grande Oriente Médio no final de 2012, com o conflito Israel-Palestina sempre presente, continuará a trazer preocupação, sobretudo em decorrência da paralisia política dos Estados Unidos e das Nações Unidas. A admissão da Palestina como membro não permanente da ONU representa um complicador a mais no difícil processo de paz na região. É possível que em 2013 as negociações em torno do programa nuclear do Irã apresentem progressos concretos para evitar uma solução militar que incendiaria o Oriente Médio e atrasaria a recuperação econômica da Europa e dos Estados Unidos, pelo efeito do aumento de preço do petróleo. A escalada na guerra civil na Síria continuará acarretando graves consequências humanitárias, com o agravamento dos choques étnicos entre sunitas, xiitas, cristãos, alauitas e curdos, espalhados em todos os países da região. A situação interna na Jordânia poderá sair do controle e o país poderá integrar a lista dos que viveram o movimento de transformação interna por via pacífica. Na América Latina, em 2013 a situação continuará relativamente positiva, mas sujeita a incertezas e volatilidade por causa do cenário internacional. O crescimento reduzir-se-á de 5,5% para ao redor de 4%, em razão da ausência de reformas estruturais que permitam o aumento de investimento e restabeleçam a competitividade perdida. Na Colômbia poderá ocorrer o fim das ações armadas entre o governo e as Farc, depois de mais de 40 anos de lutas. Na Argentina e na Venezuela não desaparecerá a crônica instabilidade política derivada da personalidade de seus líderes. O México, o Chile e o Peru deverão continuar a crescer, voltados mais para o Pacífico do que para a região. O Brasil, em 2013, poderá ter crescimento maior do que o "pibinho" de 1,% em 2012, mas não deverá alcançar os 3% prometidos pela retórica oficial. O investimento e o consumo familiar não deverão aumentar significativamente e o governo terá dificuldade em avançar no programa de infraestrutura e não desbloqueará as discussões sobre mudanças no regime tributário e trabalhista. O investimento brasileiro no exterior, sobretudo na América Latina, tenderá a crescer e a diversificar-se. O comércio externo continuará a reduzir-se como resultado da desaceleração do crescimento mundial, mas, sobretudo, pela perda de competitividade dos produtos brasileiros nos mercados internacionais. A dependência da China continuará a aumentar e a Ásia permanecerá como a principal parceira do Brasil. O Mercosul, como acordo de liberalização e de abertura de mercado para produtos brasileiros, seguirá paralisado e a Argentina continuará a impor barreiras ilegais aos parceiros do bloco, sob o olhar leniente de Brasília, justificado pela "paciência estratégica" em relação ao governo de Cristina Kirchner.

* RUBENS BARBOSA É PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP