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O fecho de uma luta amarga

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Por Redação
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A campanha pelo Planalto entrou na reta final no debate televisivo de domingo à noite - o penúltimo da série - em que Dilma Rousseff e Aécio Neves descobriram a pólvora. Deixaram de trocar golpes baixos porque as pesquisas encomendadas pelos respectivos comitês mostraram o repúdio da maioria dos entrevistados ao torneio de ofensas pessoais a que se entregaram no confronto anterior, meros três dias antes. Faz muito tempo, porém, que os candidatos a cargos executivos sabem, também a partir de levantamentos de opinião, que o eleitor se irrita quando o "bate" prevalece sobre o debate, menos por fidelidade aos valores da ética pública do que por se sentir irrelevante enquanto a pancadaria corre solta. Na clássica percepção de uma eleitora, registrada numa pesquisa qualitativa, "quando brigam, os políticos deixam de falar para nós".A apelação às vezes compensa, mas pode enganar. Tendo acabado a caneladas com as chances de Marina Silva chegar ao segundo turno, Dilma tratou de repetir a dose com Aécio. Só que ele replicou na mesma moeda, e deu no que deu. Como breve contra a baixaria, a reprovação popular é preferível à intervenção do Estado. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) baniu trechos de nada menos de 14 peças de propaganda para evitar a degradação do horário eleitoral em "baile do risca-faca", no dizer do presidente da Corte, ministro Dias Toffoli. O problema é que as iniciativas de engenharia moral do TSE, apesar da motivação louvável, tolhem a liberdade de expressão dos candidatos e parecem ignorar a capacidade dos brasileiros de punir, eles próprios, os responsáveis por arrastar a competição eleitoral à sarjeta, como ocorre nos cada vez mais virulentos spots que permeiam a programação das emissoras.Malgrado o tom aceitável do debate de anteontem, a cinco dias da votação o panorama é o que se poderia esperar de uma disputa amarga e polarizada. Toda eleição, como se sabe, é uma escolha entre continuidade e mudança. Também esta, mas com a incendiária peculiaridade de se travar não entre o partido no poder e os que ambicionam substituí-lo. É entre PT e anti-PT. O eleitor antipetista votará em Aécio menos, talvez, pelos atributos que tiver demonstrado possuir para conduzir o Brasil do que por encarnar afinal, ao cabo de uma campanha marcada por uma sequência de reviravoltas sem precedentes, a esperança de remover do Planalto a legenda que, tendo aspirado, ao surgir, ao monopólio da decência, é vista como a força propulsora do que a política nacional tem de mais execrável.Com a agravante crucial de que, não bastassem o aparelhamento do Estado iniciado por Lula e a deslavada licenciosidade dos companheiros na manipulação dos bens públicos, Dilma deixou um raro legado de incompetência administrativa e retrocesso generalizado, com a inflação em alta, a economia à beira da recessão e as contas públicas na UTI. Nem "o social" escapou. Este ano, pela primeira vez desde 2003, a miséria parou de cair. A rigor, teve um ligeiro aumento, com o contingente de miseráveis subindo de 10,9 milhões para 11,1 milhões. Por último - e nem de longe menos importante - assomam os escândalos da Petrobrás. Do que se deu a conhecer das delações premiadas do seu ex-diretor Paulo Roberto Costa, o PT ficava com a parte do leão das propinas pagas por empreiteiras atrás de contratos superfaturados com a estatal.Do pedágio de 3% sobre o valor do negócio, 2% foram para a legenda de Dilma, ajudando a irrigar a sua campanha em 2010. A presidente-candidata não se livrará desta abominação até o fechamento das urnas do domingo - pelo menos. Em desespero de causa, nos últimos dias ela tentou mudar a ladainha de que de nada sabia das lambanças na Petrobrás, mas, para variar, enredou-se nas palavras. Incerta, primeiro disse numa entrevista que "se houve desvio de dinheiro público…", para emendar, "se houve, não; houve, viu?". Achando, talvez, que teria ido longe demais, preferiu depois falar em "indícios" de desvio, ressalvando que falta saber "quanto foi e quem foi". É o pânico diante de um tema que pode custar-lhe a reeleição. A prova dos nove poderá ser antevista no debate da Globo, na sexta-feira.