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O festival de reuniões de L?Aquila

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Por Redação
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Reunidos em L?Aquila, na Itália, os líderes das maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento devem produzir em três dias muito mais declarações políticas do que decisões práticas de aplicação imediata. O evento principal será, hoje, o encontro dos governantes do Grupo dos 8 (G-8), formado pelas sete principais potências capitalistas e pela Rússia. Os oito líderes deverão reafirmar os compromissos de continuar combatendo a recessão, manter os mercados abertos, socorrer os países pobres, conter a mudança climática e encerrar no menor prazo possível a Rodada Doha de negociações comerciais. Farão um balanço da economia global e das melhoras obtidas com as políticas anticrise - até agora, mais visíveis nos Estados Unidos que na Europa e no Japão. Além disso, os líderes do G-8 deverão conversar, amanhã e sexta-feira, com os governantes do G-5, formado por Brasil, México, Índia, China e África do Sul, e participar de sessões muito mais amplas, com a presença de governantes de outras economias desenvolvidas, como Austrália e Dinamarca, e em desenvolvimento, como Líbia, Senegal e Nigéria. Entre hoje e sexta-feira o tempo será muito escasso para uma agenda tão grande. O saldo já será positivo se houver decisões práticas sobre a questão mais dramática neste momento, a crise alimentar nos países pobres. A recessão global e a redução dos fluxos financeiros atingiram também esses países, mas, apesar da contração dos mercados desenvolvidos, os preços dos alimentos continuam muito altos para as populações pobres e mais dependentes da importação de comida. Segundo a ONU, o contingente de famintos deve estar em torno de 1 bilhão de pessoas, cerca de 100 milhões a mais do que antes do agravamento da crise. Um compromisso de financiamento de US$ 12 bilhões, em três anos, para o desenvolvimento agrícola desses países será assumido pelos líderes do G-8, segundo fontes diplomáticas. A novidade será a ênfase em programas de investimento. Durante anos, o mundo rico se limitou a conceder ajuda alimentar para aliviar a situação dos pobres. Isso não poderia ter efeito duradouro. Mas também não se pode, numa emergência, deixar de lado esse tipo de socorro. Na maior parte dos encontros não deverá haver grande novidade nos discursos. Os líderes do G-8 (Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Rússia) deverão discutir principalmente as políticas de reativação adotadas a partir do ano passado. A chanceler alemã Angela Merkel deverá defender maior atenção, desde já, às condições de saída da crise: se os governos descuidarem dos fundamentos econômicos e financeiros, pouco ou nada terão feito para prevenir a repetição das crises. Seus colegas poderão concordar, mas defenderão, provavelmente, a manutenção das políticas expansionistas até uma reação mais firme das economias. Os líderes dos grandes países emergentes deverão reunir-se antes de se encontrar com os governantes do G-8. Os governantes de Brasil, México, Índia, China e África do Sul têm programada uma conversa para hoje à tarde, seguida por uma entrevista à imprensa e um jantar oferecido pelo presidente mexicano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuará a pregação conhecida, contestando a legitimidade do G-8, defendendo o fortalecimento do G-20 e insistindo na reforma política do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird). A reforma do FMI já começou de fato e nenhum governo se opõe à redistribuição de votos e de cotas - mas será uma enorme surpresa se o governo americano renunciar ao poder de veto, garantido por uma cota superior a 16% do total. O presidente do Bird, Robert Zoellick, já se declarou favorável a uma reforma semelhante em sua instituição. O governo brasileiro defende uma distribuição paritária de votos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Se isso ocorrer, ainda será muito complicado articular os interesses de asiáticos, africanos, latino-americanos e caribenhos, como já deveria ter aprendido o presidente Lula, depois de várias derrotas diplomáticas do Brasil. O G-8, segundo o chanceler Celso Amorim, já está morto e o importante, agora, é o G-20. Para um morto, o G-8 ainda tem uma capacidade notável de atrair o interesse até dos seus detratores. Não chega a ser um popstar, mas não faz feio.