
21 de setembro de 2011 | 03h06
A inflação brasileira estará em 4,5%, isto é, no centro da meta, no fim do próximo ano, segundo projeção apresentada no Panorama Econômico Mundial divulgado ontem pelo FMI. A inflação média do próximo ano, 5,2%, ainda ficará acima da meta, mas o compromisso das autoridades é com o resultado de janeiro a dezembro. A mera publicação daquele número, 4,5%, comprova a aposta do FMI na política do BC e, mais que isso, na manutenção do regime de metas.
Mas essa aposta é também uma demonstração de confiança na gestão das finanças públicas. Para justificar essa confiança, a economista Petya Koeva Brooks, do FMI, mencionou a decisão do governo de melhorar o resultado fiscal deste ano. Ela se referia à decisão de incluir mais R$ 10 bilhões no superávit primário de 2011.
Acontece que essa decisão de nenhum modo resultará num aperto de cinto, nem representa um compromisso com uma política fiscal mais austera. O Tesouro arrecadou, até agosto, cerca de 14% mais que no mesmo período de 2010, descontada a inflação. Além disso, cerca de R$ 5 bilhões vieram de um pagamento especial de tributos da Vale.
Depois, é preciso levar em conta as condições do orçamento proposto para 2012. O Executivo resiste a algumas tentativas de elevação de gastos, como a proposta de aumento salarial para o pessoal do Judiciário. Mas o projeto apresentado pelo governo está longe de ser mais austero que os dos anos anteriores. Até a hipótese de um desconto na meta fiscal - com a subtração do valor aplicado no PAC - foi considerada. Enfim, convém considerar também as inevitáveis pressões eleitorais de 2012 e a sensibilidade do governo às demandas de sua base de apoio.
A aposta do FMI quanto ao recuo da inflação brasileira até o centro da meta, no fim de 2012, até poderá ser sancionada pelos fatos, mas nada, até agora, indica o acerto da manifestação de confiança na austeridade fiscal do governo. Outros fatores, no entanto, poderão contribuir para a moderação das pressões inflacionárias. O FMI reduziu as previsões de crescimento dos países desenvolvidos. China, Índia e outros países emergentes continuarão crescendo vigorosamente, embora em ritmo inferior ao dos últimos anos. Entre eles, o Brasil é o que crescerá menos.
O preço do petróleo poderá cair 3,1%, mas depois de uma alta de 30,6% em 2011. Para as demais commodities está projetada uma queda de 4,7% em 2012, mas também depois de um grande aumento (21,2%). As pressões poderão ser menores, mas as cotações continuarão elevadas. Além disso, os efeitos sobre os preços ao consumidor dependerão do peso de cada produto nas cestas de compras e há muita incerteza quanto à oferta mundial de trigo e de outros alimentos. Enfim, há o problema da demanda interna no Brasil. Pode estar cedendo, como avaliam os economistas do FMI, mas ainda pressiona os preços e as importações. O BC pode ter acertado em sua aposta. Mas há razões muito fortes para encarar com reserva a sua decisão.
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