Imagem ex-librisOpinião do Estadão

O FMI e os planos de Temer

Pelas novas estimativas, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve diminuir 3,3% neste ano e crescer 0,5% no próximo

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Além de melhorar suas projeções para a economia brasileira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) passou a acompanhar a execução dos planos de ajuste anunciados pelo presidente interino Michel Temer. Pelas novas estimativas, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve diminuir 3,3% neste ano e crescer 0,5% no próximo. No relatório distribuído em abril, na reunião de primavera, o cenário incluía uma contração de 3,8% em 2016 e expansão zero em 2017. A mudança foi explicada, em parte, pelo desempenho menos mau que o esperado no primeiro trimestre e pelo aumento de confiança indicado recentemente por empresários e consumidores. Incertezas políticas permanecem e afetam as perspectivas, segundo o texto do Panorama Econômico Mundial divulgado na quarta-feira, uma atualização dos números e da análise de três meses antes. Mas os comentários feitos no dia seguinte pelo diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental, Alejandro Werner, ao detalhar o quadro regional, indicam uma nova percepção do governo e de sua orientação econômica.

Segundo Werner, as projeções divulgadas um dia antes foram elaboradas sem consideração do impacto de “fenômenos políticos”. Mas os dados mais importantes para a avaliação das perspectivas brasileiras, acrescentou, são os anúncios de ajuste econômico, sobretudo fiscais, e a implementação das medidas. Ele destacou, dentre as novas iniciativas, o projeto de fixação de um teto para o aumento dos gastos públicos. Agora, continuou, é preciso ver como Executivo e Legislativo se entenderão para tocar os planos.

Num documento divulgado ainda na quarta-feira, ele havia sugerido ao governo uma concentração de esforços para levar adiante o ajuste das contas públicas, uma estratégia, segundo ele, vista com “muito bons olhos” pelos mercados.

Um ponto parece claro. As novas projeções podem ter sido elaboradas sem consideração do impacto de fatores políticos, mas a avaliação geral do cenário brasileiro parte dos planos anunciados pelo governo provisório. Mais que isso: ao falar sobre as condições políticas de implementação desses planos, o diretor parece descartar a hipótese de retorno da presidente afastada. O impeachment, portanto, deve ser dado como certo, assim como a conversão do governo provisório em efetivo.

Nada disso é dito com todas as palavras, e seria estranho se um dirigente de uma entidade multilateral entrasse em detalhes desse tipo. Mas os comentários sobre o plano de ajuste fiscal e sobre medidas como a limitação do gasto público só têm sentido se o pressuposto for a confirmação do presidente Michel Temer no cargo. De forma implícita, portanto, o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff, no fim do processo de impeachment, é dado como certo. A avaliação mais otimista – ou menos pessimista – das perspectivas brasileiras foi encampada por técnicos e diretores do Fundo. Não é um fenômeno circunscrito aos mercados.

Mesmo com a melhora das projeções, o desempenho do Brasil, em 2016 e 2017, ainda será um dos piores da região. A América Latina e o Caribe devem recuar 0,4% neste ano e crescer 1,6% no próximo. A média regional é obviamente prejudicada pelos números do Brasil e de uns poucos países em recessão. O PIB argentino deve diminuir 1,5% em 2016, mas por causa das medidas de ajuste do novo governo, empenhado em cuidar dos danos causados pela gestão da presidente Cristina Kirchner. O quadro regional poderia ser pior, se os países latino-americanos fossem mais ligados comercialmente ao Reino Unido e, portanto, mais vulneráveis aos efeitos do Brexit.

Os efeitos devem ser mais sentidos no mundo rico, especialmente na Europa. Ainda assim, a economia da zona do euro deve crescer 1,6% em 2016 e 1,4% em 2017. Os Estados Unidos continuarão liderando a recuperação dos países avançados, com crescimento de 2,2% e 2,5% nestes dois anos. Mesmo com perspectiva melhor, o Brasil precisará de alguns anos para acertar o passo.