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O FMI recalibrado

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Por Redação
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Mais dinheiro para o Fundo Monetário Internacional (FMI) ajudar as economias afetadas pela crise deve ser uma das principais decisões - talvez a principal - da reunião de cúpula dos 20 maiores países desenvolvidos e emergentes, na próxima quinta-feira, em Londres. O diretor-gerente do Fundo, o ex-ministro francês Dominique Strauss-Kahn, irá à reunião não apenas para defender o aumento de recursos. Ele está preparado para mostrar os programas de auxílio já negociados e os novos critérios adotados para financiamentos, mais flexíveis e menos burocráticos. O Fundo anunciou anteontem uma Linha de Crédito Flexível para países com bons fundamentos e boas práticas de política econômica, uma forma de apoio preventivo. Países com essas qualificações terão acesso rápido ao valor total do financiamento, sem ter de negociar metas com o FMI. Terão prazo de 39 a 60 meses para pagar e poderão manter o dinheiro apenas disponível, como precaução, ou sacá-lo para resolver problemas de balanço de pagamentos. As condições de acesso, de uso e de pagamento são melhores que as da Linha de Liquidez de Curto Prazo aprovada em outubro do ano passado. O prazo era menor e não havia uso preventivo do financiamento. A campanha por uma linha de crédito com essas características foi iniciada pelo primeiro ministro da Fazenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Antonio Palocci, e mantida por seu sucessor. O Fundo também criou facilidades para os países sem qualificações para recorrer à Linha de Crédito Flexível. Esses países poderão dispor de novos financiamentos stand-by preventivos. Suas condições serão negociadas de acordo com as circunstâncias de cada tomador e o desembolso poderá concentrar-se no início do programa. Isso dependerá da qualidade da política adotada e da situação externa. Além de tudo, o FMI decidiu duplicar os limites de acesso. Os novos tetos correspondem a 200% da cota para acesso anual e a 600% para o valor acumulado. Essas condições são aplicáveis aos financiamentos para países de renda média ou alta. O Fundo também está revendo as normas para empréstimos aos países pobres, para ampliar sua capacidade de ação emergencial e pelo menos duplicar o potencial de financiamentos a esses associados. Vários países dessa categoria já vinham recebendo ajuda por terem sido severamente afetados pela alta do preço dos alimentos. Desde o agravamento da crise, no segundo semestre do ano passado, o FMI emprestou cerca de US$ 50 bilhões, a maior parte para países da Europa ex-socialista, incluídos Hungria, Letônia e Ucrânia. Um novo financiamento, equivalente a US$ 17,5 bilhões, foi anunciado na segunda-feira, desta vez para a Romênia. A reunião do G-20 deverá resultar num aumento de recursos para o FMI. O diretor-gerente, Strauss-Kahn, vinha pedindo pelo menos a duplicação - para US$ 500 bilhões - do dinheiro disponível. O governo japonês anunciou uma contribuição de US$ 100 bilhões. A União Europeia prometeu US$ 75 bilhões. Os Estados Unidos também deverão contribuir e a China, segundo indicou seu governo há poucos dias, provavelmente participará do esforço. Em outubro, o FMI projetava um crescimento da produção mundial de 3% em 2009, sustentado pelos grandes emergentes. Em janeiro a estimativa caiu para 0,5%. A nova projeção, divulgada em março, é de uma contração entre 0,5% e 1%. Os economistas do Fundo não foram os únicos a rever seus cálculos várias vezes desde outubro. Nesse período, cada nova informação divulgada nos grandes países mostrou uma crise mais grave do que se havia imaginado. Os emergentes, incluídos China, Índia e Brasil, não escaparam do contágio. A fila tende a crescer na porta do FMI e isso torna urgente a ampliação de recursos para empréstimos e a adoção de políticas mais ágeis e mais flexíveis. Os diretores do Fundo avançaram na reforma das políticas e a instituição parece pronta para agir com rapidez no socorro aos países com problemas. Os chefes de governo do G-20 chegarão a Londres com muitos discursos e propostas e algumas delas talvez sejam adotadas. Mas a agenda mais concreta, por enquanto, é aquela preparada por Strauss-Kahn e seus companheiros.