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O fracasso da 'vaquinha'

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Por Redação
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As multas que terão de pagar os 25 réus condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por terem participado da compra de votos para apoio parlamentar ao governo Lula somam R$ 22 milhões. Destes, R$ 1,8 milhão representa a soma do que a Justiça cobrará de quatro ex-dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) apenados: R$ 676 mil do ex-chefe da Casa Civil de Lula José Dirceu; R$ 468 mil do ex-presidente nacional do partido José Genoino; R$ 360 mil do ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha; e R$ 325 mil do ex-tesoureiro nacional Delúbio Soares.A Juventude do Partido dos Trabalhadores - JPT Brasília, grupo ligado a Delúbio Soares, promoveu na quinta-feira, 17, um jantar numa "galeteria" da capital federal para recolher fundos numa espécie de "vaquinha" para ajudar os companheiros a pagarem essas multas. Por um convite de adesão ao ágape os organizadores cobraram de R$ 100 a R$ 1.000. A quem quisesse contribuir, mas não pudesse ir ao restaurante, os militantes pediram que depositasse sua doação na conta do PT Plano Piloto."A Ação Penal 470 resultou, entre outras injustiças cometidas, em multa milionária em desfavor de alguns de nossos principais dirigentes, em especial, José Dirceu e José Genoino", proclamaram os organizadores do ato em texto produzido para a divulgação do jantar. "Com a clareza de que o alvo deste julgamento sempre foi o PT e de que é necessário mobilizar a militância para defender o nosso partido, a Juventude do Partido dos Trabalhadores - JPT Brasília organizou um jantar de arrecadação para ajudar a pagar a dívida dos companheiros, cuja condenação poderá se confirmar", completou. "Nós consideramos absolutamente injusto que eles tirem um centavo do bolso para pagar essas multas. Então fomos estudar o estatuto do PT para ver o que poderia ser feito para arrecadar fundos", explicou um dos organizadores, Pedro Henrichs. O otimismo dos jovens militantes, contudo, não se refletiu no resultado final do evento. Eles não tornaram pública a féria afinal obtida e pelo número dos participantes não é possível calculá-la, pois os valores pagos pelos 150 convites anunciados como vendidos foram díspares - de R$ 100 a R$ 1.000 - e não foi informado quanto a "galeteria" cobrou pela comida e pelas bebidas que serviu. Só que, qualquer que tenha sido o lucro auferido a ser distribuído entre os condenados e multados, a contribuição do primeiro ato da "vaquinha" não foi espetacular. Mas isso não desanimou os organizadores. Henrichs vaticinou: "Se conheço o PT, isso vai virar uma onda e várias ações vão ser feitas em outros Estados".A julgar pelo ocorrido na noite de quinta-feira,talvez não seja o caso de contar com este sucesso todo. Nenhum petista de primeiro escalão deu o ar de sua graça na "galeteria". O comparecimento da deputada federal Erika Kokay (DF) na certa não compensa o impacto que causaria no local o ex-presidente do PT e ex-ministro Ricardo Berzoini, que explicou que não estava em Brasília na noite do jantar. Ou o governador de Sergipe, Marcelo Déda, que teve justa causa para se ausentar: viajou para São Paulo para fazer tratamento médico. Deda garantiu que fará um depósito na conta da "vaquinha", mas esclareceu: "Solidarizar-se com um companheiro que sofreu uma condenação não significa nenhum tipo de adesão a um possível erro que foi cometido".A explicação de Deda justifica a ausência de nomes importantes do partido no jantar. Depois de dar indicações de que poderia tentar uma mobilização nacional para protestar contra a condenação dos figurões petistas como tendo sido uma acomodação da cúpula do Poder Judiciário às pressões da oposição e da imprensa, tudo indica que o partido percebeu que seu pleito não dispõe de grande apoio popular e tende a mudar de posição. O malogro do jantar na "galeteria" é um sinal de que o senso de realismo manifestado por militantes em postos importantes - como o governador gaúcho Tarso Genro e o prefeito paulistano Fernando Haddad - tem prevalecido sobre o impulso emocional de solidariedade cega e irrestrita aos companheiros condenados.