Imagem ex-librisOpinião do Estadão

O G-20 e o Inexorável

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

O reforço de US$ 456 bilhões para o Fundo Monetário Internacional (FMI) socorrer países em dificuldades foi o resultado prático mais importante da reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20) em Los Cabos, no México. Nenhum compromisso claro de estímulo ao crescimento e à criação de empregos a curto prazo foi assumido, embora o assunto seja mencionado com destaque na declaração final dos chefes de governo e no vago Plano de Ação de Los Cabos para o Crescimento e o Emprego. Ninguém conseguiu arrancar da chanceler alemã, Angela Merkel, uma promessa de maior flexibilidade em relação às políticas europeias de arrumação fiscal e de reformas, nem um sinal de apoio a uma revisão do cronograma de ajuste imposto à Grécia - uma concessão, apesar de tudo, ainda possível. De certa forma, ela saiu vitoriosa da conferência, assim como a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde. Na reunião de primavera, em abril, Lagarde havia negociado com ministros de Finanças de vários países um reforço financeiro para aumentar o poder de fogo do FMI. Foi acertado, em princípio, um aporte adicional de US$ 430 bilhões, mas os compromissos efetivos anunciados na ocasião só chegaram a cerca de US$ 360 bilhões. Vários países, incluídos os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), prometeram participar, mas deixaram para mais tarde a confirmação de suas contribuições. Em Los Cabos, os Brics e mais sete países definiram seus aportes, elevando o número de participantes a 37 e o total do reforço a US$ 456 bilhões. Com isso, a capacidade de empréstimo do Fundo é quase duplicada e o dinheiro adicional poderá ser destinado a quaisquer países, embora o principal foco da crise esteja na Europa. O Brasil participará com US$ 10 bilhões. No comunicado final, os líderes do G-20 formalizaram o compromisso de "atuar juntos para fortalecer a recuperação e cuidar das tensões do mercado financeiro". Também combinaram "agir coletivamente para fortalecer a demanda e restabelecer a confiança, apoiar o crescimento, promover a estabilidade financeira e criar empregos de alta qualidade". Mas cada um pode interpretar essas palavras de forma diferente. Para alguns, podem indicar a disposição de agir imediatamente para estimular o consumo e o investimento e apressar a redução do desemprego - normalmente um efeito retardado, nas fases de recuperação. Mas o texto é compatível, também, com a política defendida pelas autoridades alemãs: o objetivo de todos é a retomada do crescimento e a maneira mais segura de alcançá-lo é fortalecer os fundamentos da economia, a começar pela arrumação das contas públicas. A expansão dos negócios e do emprego será um desdobramento natural do saneamento econômico. A mesma ambiguidade caracteriza o Plano de Ação apresentado como anexo da declaração dos líderes. Na lista dos compromissos, o documento apresenta o de "impulsionar a demanda e o crescimento econômico" em terceiro lugar, depois das promessas de "cuidar decisivamente da dívida soberana e da crise bancária na zona do euro" e de "garantir a estabilidade financeira". A passagem mais promissora menciona o uso de recursos financeiros europeus - como os do banco de investimento - para obras públicas e criação de empregos, mantendo-se o compromisso com a consolidação fiscal. A presidente Dilma Rousseff percebeu, certamente, a frouxidão de todos esses compromissos. A Europa, segundo ela, acabará sendo forçada por pressões do mercado, da sociedade e dos políticos a tomar medidas para o crescimento. Será, segundo ela, a intervenção do Inexorável da Silveira. O convite da chanceler alemã ao novo primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, para uma visita a Berlim talvez seja o prenúncio de uma atitude mais conciliadora, apoiada tanto pelo FMI quanto pelos bancos. Por enquanto, a tarefa de fornecer algum estímulo às economias ricas fica entregue aos bancos centrais. Uma das consequências dessa divisão do trabalho - aperto fiscal e frouxidão monetária - foi o tsunami financeiro denunciado uma vez pela presidente Dilma Rousseff. Resta torcer pelo Inexorável, já em ação em vários países.