
24 de abril de 2010 | 00h00
Em seguida a uma consulta aos diretórios regionais da sigla, neste fim de semana, a executiva socialista de 18 membros resolverá na terça o que de há muito resolvido está: o partido não terá candidato próprio à sucessão do presidente Lula e se integrará à caravana dilmista. Numa de suas exortações para que o PSB fizesse o contrário, indo consigo à disputa, o duas vezes ex-presidenciável argumentou que, de outro modo, a sigla estaria fadada a imitar o PC do B em matéria de subserviência ao governo. É verdade, mas não toda a verdade.
De um lado, o cacife político da legenda era e é notoriamente insuficiente para contrariar a estratégia eleitoral lulista do "nós e eles", firmada depois que se dissiparam as dúvidas sobre a saúde da então ministra Dilma Rousseff. A sorte de Ciro foi, como se diz, selada a partir do momento em que o presidente e o PT concluíram que a entrada em cena de um segundo nome governista, embora garantisse que a sucessão só se decidirá no segundo tempo, representaria um risco incalculável para as chances de Dilma.
Não seria o lulismo que se exporia à eventualidade de ver migrar para ele parcela decisiva do eleitorado, à medida que as limitações da candidata se revelassem insuperáveis. No limite, melhor perder com Dilma - hipótese que Lula trataria de tornar inconcebível - do que ganhar na segunda rodada com o instável e boquirroto aliado, que ainda ontem acusou Lula de "navegar na maionese" ao se achar o "Todo-Poderoso". Ciro detesta o PT quase tanto quanto o PSDB a que já esteve filiado, considerando ambos faces da mesma suposta hegemonia política paulista.
Além disso, no que dependesse do PMDB, Ciro morreria na praia. Não foi ele quem classificou a aliança PT-PMDB - neste caso coberto de razão - como um "roçado de escândalos"? (O que levou Dilma a atribuir-lhe o pecado da soberba.) De outro lado, com 28 deputados, formando a oitava bancada das 20 da Câmara, e apenas 3 governadores, o PSB precisa compor-se com o PT para não definhar no plano regional. Os socialistas têm 11 candidatos a governador, mas só 3 deles apoiados pelos petistas. E, correndo por fora, a anunciada aspiração do partido de "duplicar a bancada" federal se tornaria ainda mais despropositada do que já parece.
O próprio Ciro não tem moral para se queixar do presidente ou de seus correligionários. Afinal, ele aceitou prestar-se à ostensiva jogada de Lula para tirá-lo do pleito nacional, concordando em transferir do Ceará para São Paulo, seu Estado natal, o seu título de eleitor. Com isso, Ciro apequenou a sua alardeada imagem de altivez e independência, mesmo sabendo serem praticamente desprezíveis as chances de o PT paulista fechar com a sua candidatura ao governo estadual. Numa versão caridosa, ele teria querido dar uma prova de lealdade a Lula, na expectativa de que, ao fim e ao cabo, o "Todo-Poderoso" o deixasse competir no páreo principal. Se assim entendesse, agiria como um néscio - o que ele não é.
O esperado fim da quimera de Ciro privará a campanha de uma presença desejável, como desejável é a da ex-ministra Marina Silva, para, entre outras coisas, ampliar o debate das questões nacionais.
Por deploráveis que sejam os seu rompantes temperamentais e os estereótipos nos quais se enreda com frequência, é inegável que ele demonstra ter luz própria quando fala sobre o País - mais do que a escolhida de Lula, que outra coisa não diz a não ser que o seu padrinho é o máximo. Também por isso, talvez, Ciro julga o tucano José Serra "mais preparado, mais legítimo, mais capaz" do que ela.
Encontrou algum erro? Entre em contato