
08 de abril de 2013 | 02h07
Uma das ideias aventadas para a identificação do passageiro habilitado a utilizar o bilhete foi a biometria, um sistema que, pela sua precisão, a Prefeitura julgou ideal para evitar fraudes, porque impediria a utilização do bilhete por outra pessoa além do titular. Talvez por seu alto custo, ele foi deixado de lado por enquanto. O cadastramento dos usuários será feito com seus dados pessoais e uma foto, que comporão o seu bilhete. Esse será o documento que lhe permitirá fazer quantas viagens de ônibus quiser durante 30 dias.
Para evitar fraudes, a SPTrans, que gere o serviço de ônibus, pretende rastrear o uso do bilhete, para verificar se ele não está sendo usado acima da média das viagens feitas pelos seus titulares. Uma ideia de execução tão difícil - haverá alguns milhões de usuários - que parece mais produto de improvisação que de estudos técnicos. Além de ser de utilidade duvidosa. Em grandes cidades que têm esse tipo de bilhete - Londres, Nova York, Paris -, em cujo exemplo certamente Haddad se inspirou, há apenas aquele documento com foto. Fraudes são combatidas pela fiscalização e pela polícia. É o que deveria ser feito aqui.
Outra questão até agora não devidamente esclarecida é a do preço do bilhete tanto para o usuário como para a Prefeitura. Para o usuário, ele foi estimado - note-se bem, estimado - em R$ 140. Além de não ser um número exato, não se sabe nem ao menos que estudos - se eles existem, não foram divulgados - permitiram chegar àquela estimativa. Qual será o impacto nessa estimativa do reajuste da tarifa de ônibus - hoje de R$ 3 - em junho? Reajuste sobre o qual, acrescente-se, não se sabe muito até agora. "É sempre proporcional", limita-se a dizer o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto. Para a Prefeitura, prevê-se que o custo do bilhete - hoje, antes do aumento da tarifa - será de R$ 400 milhões.
É quase tudo muito vago, como se vê. Uma das poucas coisas precisas até o momento é o cálculo de quantas viagens compensarão ter o bilhete único mensal - um mínimo de 46, considerando-se o preço de R$ 140 e a tarifa de R$ 3. Mas não se conhecem nem estudos nem estimativas sobre quantos, dos 6 milhões de usuários do atual bilhete único comum, poderão se interessar pelo bilhete mensal. Está estabelecido também que a compra de créditos para o bilhete, depois do cadastramento, será feita por telefone ou pela internet.
Outro aspecto da questão que aponta mais para a improvisação do que para o planejamento é a incerteza quanto à extensão do bilhete ao Metrô e à CPTM, sem o que o seu alcance será bastante limitado. O certo teria sido anunciar durante a campanha não a implantação do bilhete, em sua versão acanhada, sem maiores estudos e circunscrita aos ônibus, mas a intenção de discutir o problema com o governo do Estado. Queiram ou não o prefeito e o governador - por razões políticas -, o sistema de transporte coletivo da capital, formado pelos ônibus, o Metrô e a CPTM, deve fatalmente ter um mínimo de integração. Há um limite para se tratar suas partes isoladamente. Haddad se esqueceu de que o bilhete pode não interessar, do ponto de vista técnico, ao Metrô e à CPTM, já superlotados.
Por tudo isso, vai pagar o preço da pressa e da imprudência. Talvez à custa dos paulistanos.
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