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O intercâmbio nas universidades

Como são poucas as oportunidades para que estudantes brasileiros possam passar um período fora, a vinda de estudantes estrangeiros é considerada uma forma de tornar mais cosmopolita o ambiente universitário do País

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Por Redação
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O ensino superior exige cada vez mais intercâmbio de alunos, compartilhamento de conhecimentos e uma formação cosmopolita, mas as universidades brasileiras ainda não conseguiram implementar programas eficientes de internacionalização. Esse é um dos principais critérios levados em conta nos estudos comparativos de qualidade do ensino superior, como os promovidos pela Quacquarelli Symonds e pela Times Higher Education.

Nas universidades federais, o número de estudantes estrangeiros representa só 1% do total do corpo discente dos cursos de graduação e pós-graduação, segundo levantamento feito pelo Estado. Das universidades públicas paulistas, a que mais tem conseguido atrair alunos em programas de intercâmbio é a Universidade de São Paulo (USP). Em 2016, 3,4% de seu corpo discente era integrado por estudantes vindos de países como Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Argentina, México e Angola.

Para os especialistas em ensino superior, o ideal seria que esse índice fosse de 5% e que muitos alunos viessem de países desenvolvidos, e não, em sua grande maioria, de países em desenvolvimento da África e da América Latina. Como são poucas as oportunidades para que estudantes brasileiros possam passar um período nas principais universidades americanas ou europeias, a vinda de estudantes estrangeiros é considerada uma forma de tornar mais cosmopolita o ambiente universitário do País. “Os alunos amadurecem mais quando expostos à diversidade cultural e linguística”, afirma o diretor de Relações Institucionais da Unicamp, Mariano Francisco Laplane.

Lançado há sete anos pela então presidente Dilma Rousseff, o programa Ciência sem Fronteiras tinha por objetivo incentivar a ida de alunos brasileiros para o exterior, com o objetivo de reduzir a distância entre as universidades nacionais e as universidades estrangeiras mais bem classificadas nos rankings internacionais. Mas, em vez de definir critérios precisos, estabelecer metas e priorizar as áreas técnicas nas quais o Brasil é carente de especialistas, especialmente no campo das ciências exatas e biomédicas, o programa concedeu bolsas indiscriminadamente em quase todas as áreas do conhecimento, inclusive publicidade.

Além disso, em vez de priorizar projetos de internacionalização no âmbito da pós-graduação, o programa desperdiçou recursos financiando alunos de graduação, dos quais muitos foram reprovados nos exames de seleção das instituições que escolheram ou, por não terem sido submetidos a testes de proficiência no idioma em que as atividades didáticas seriam realizadas, não conseguiram acompanhar as aulas. Por isso, parte dos gastos com o programa não resultou em qualificação acadêmica com padrão de excelência, tendo de ser contabilizada como prejuízo.

Apesar de o governo federal manter um programa para atrair mais alunos estrangeiros para as universidades brasileiras, os resultados têm sido insatisfatórios por dois motivos. O primeiro é a insuficiência de recursos orçamentários, por causa da queda da arrecadação decorrente da recessão econômica. O segundo motivo é a baixa oferta de disciplinas em inglês. Como o português não é uma língua fácil de ser aprendida, isso desestimula a vinda de estudantes da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia.

Para resolver esse problema, algumas universidades públicas estão estimulando faculdades a oferecerem disciplinas de graduação e pós-graduação em inglês. Esse é o caso da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, que em 2015 criou uma comissão encarregada de aumentar a internacionalização da instituição. Neste ano, ela está oferecendo 26 disciplinas em inglês.

Depois do fracasso do Ciência sem Fronteiras, essa é a alternativa que sobrou, afirma o presidente da Associação Brasileira de Educação Internacional, José Celso Freire Júnior. Estimular iniciativas como essa é um dos desafios do próximo governo, em matéria de ensino superior.