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O mapa da criminalidade

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Por Redação
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Criada há 14 anos para alimentar com informações estatísticas os serviços de inteligência das Polícias Civil e Militar, a Coordenadoria de Análise e Planejamento (CAP) da Secretaria da Segurança Pública vem divulgando relatórios trimestrais que mapeiam a criminalidade na capital, na região metropolitana e no interior do Estado de São Paulo, ajudando o governo a definir as prioridades de sua política para o setor. Depois de anos de declínio da violência criminal, os levantamentos dos últimos seis trimestres - começando com a eclosão da crise econômica de 2008 - passaram a registrar uma inversão de tendência, mostrando um preocupante aumento de determinados tipos de delito, como furtos, roubo de veículos, estupros e latrocínios. Comparando os índices de criminalidade do segundo trimestre de 2009 com os do mesmo período do ano passado, o relatório que acaba de ser divulgado pela CAP aponta que o ritmo de aumento de alguns tipos de delito diminuiu significativamente e até estancou em alguns casos de crime contra a pessoa. É uma boa notícia, diz o sociólogo Túlio Kahn, diretor do órgão, atribuindo a mudança à melhoria recente dos indicadores econômicos, como a queda da taxa de desemprego e do número de cheques protestados. Para Kahn, o nível de atividade econômica é um dos fatores que mais influenciam as oscilações dos índices de criminalidade no Estado. Na capital, a pesquisa da CAP mostra que a maioria dos índices de criminalidade permaneceu relativamente estável no segundo trimestre deste ano em quase todas as regiões. Houve um aumento no número de crimes contra o patrimônio, especialmente furto e roubo, mas ele ficou abaixo da média do Estado. A única exceção ocorreu na zona norte, onde foi registrado um significativo aumento da criminalidade, com relação ao segundo trimestre de 2008. A explicação das autoridades de segurança pública é que os índices do ano passado foram muito baixos por causa de operações feitas pelas Polícias Civil e Militar depois do assassinato do coronel José Hermínio Rodrigues, que comandava o policiamento da zona norte, em janeiro de 2008. Com isso, o que estaria fora da normalidade não seriam os dados estatísticos de 2009, mas os relativos a 2008. Outra informação positiva diz respeito ao roubo de veículos. Embora, segundo a Secretaria da Segurança Pública, esse tipo de delito se concentre basicamente no segundo trimestre de cada ano, como revelam as séries históricas dos levantamentos da CAP, houve uma pequena redução entre as ocorrências registradas no período, entre 2008 e 2009. Esse é mais um dado revelador de que "o pior já estaria passando", afirma Túlio Kahn. Entre os pontos negativos, o levantamento da CAP registrou uma elevação no número de roubos de telefones celulares, IPhones, talões de cheques e documentos. Esse é um delito que está em ascensão, uma vez que esses bens costumam financiar o comércio de entorpecentes. Eles são utilizados por viciados como moeda de troca para aquisição de maconha, de crack e de cocaína. O perfil das vítimas desse tipo de roubo é variado, mas o dos criminosos é recorrente. Basicamente, são homens de 16 a 32 anos, que circulam a pé ou de bicicletas nas ruas mais movimentadas, afirma o capitão da 3ª Companhia do 11º Batalhão da Polícia Militar, capitão Gilson Costa. Outro dado negativo revelado pelo levantamento da CAP é a elevação do número de homicídios - um crime decorrente de divergências familiares, de conflitos de vizinhança, de brigas em bares e de discussões entre motoristas. Este tipo de delito, que se expandiu muito mais no interior (33%) do que na capital, aumentou 11% em todo o Estado. Em números absolutos, foram registrados 414 casos, no segundo trimestre de 2008, e 550, no mesmo período deste ano. As autoridades de segurança pública acreditam que, por causa das recentes mudanças de diretorias de departamentos de combate ao crime organizado e de crimes contra a pessoa, além da ênfase à repressão ao crime contra o patrimônio, o mapa da criminalidade do terceiro trimestre de 2009 poderá trazer resultados melhores. Mas elas sabem que isso só ocorrerá se a economia entrar em fase de recuperação.