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O mau comércio da indústria

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Por Redação
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Emperrada e com baixo poder de competição, a indústria brasileira continuou perdendo espaço no mercado internacional e até no mercado interno, em 2013, diante de concorrentes mais dinâmicos, mais inovadores e mais produtivos. A participação de importados no mercado nacional de bens industriais atingiu no ano passado 22,3%, recorde da série iniciada em 1996, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Um índice até maior de importação seria perfeitamente aceitável e até bem-vindo, se resultasse de uma política de abertura e de integração na economia global. Mas a explicação é diferente e confirma um quadro muito ruim. O aumento da importação de bens industriais tem como contrapartida um fiasco inegável na exportação e uma contínua deterioração da balança comercial da indústria, especialmente a de transformação. As dificuldades poderão aumentar se o Brasil continuar fora das negociações de acordos bilaterais e birregionais de comércio, como acaba de alertar, mais uma vez, a CNI. O isolamento do Brasil e de outros países emergentes deverá tornar-se mais grave quando for concluída a formação de uma área de livre-comércio entre os dois mercados mais desenvolvidos e mais importantes do mundo, os Estados Unidos e a União Europeia. Essa advertência foi repetida por entidades ligadas à indústria e por analistas da economia global. Mas o governo brasileiro continua preso às decisões políticas imprudentes e ideologicamente ingênuas dos últimos dez anos. Rejeitou acordos com a participação dos Estados Unidos, concentrou as fichas na negociação multilateral da Rodada Doha, deu prioridade à aproximação com mercados emergentes e em desenvolvimento e amarrou-se a um Mercosul cada vez mais estagnado e mais prejudicado pelo protecionismo argentino. Nem o acordo entre Mercosul e União Europeia, em discussão desde os anos 90, foi ainda concluído.Os erros da diplomacia econômica explicam parte dos problemas comerciais da indústria brasileira. O irrealismo petista privou o País de acordos com os mercados mais desenvolvidos, limitou as possibilidades de intercâmbio do setor industrial e propiciou a concentração de suas exportações nos mercados sul-americanos. Ao mesmo tempo, elevou a proteção concedida a alguns segmentos industriais, sem cuidar, ao mesmo tempo, das condições necessárias à inovação e aos indispensáveis ganhos de eficiência. Como resultado, os brasileiros perderam espaço até em seus tradicionais mercados. Segundo a CNI, a receita de exportação representou em 2013 apenas 19,8% da receita da indústria em geral, praticamente a mesma proporção do ano anterior (19,7%). No segmento extrativo, a proporção caiu 2 pontos, para 68,3%. No outro segmento, o de transformação, o coeficiente passou de 15,7% para 16,1%, continuando muito baixo. Além disso, esse efeito positivo resultou da depreciação cambial - maior receita em reais para cada dólar faturado. Mas a piora mais notável ocorreu no coeficiente de exportações líquidas, a relação entre o valor exportado e o dos insumos comprados no exterior. Na indústria de transformação, o peso dos importados aumentou 2,2 pontos, para 24,9%, e o coeficiente de exportações líquidas tornou-se negativo, -0,1%. Foi o primeiro valor abaixo de zero desde 1997. No balanço geral, o resultado da indústria teria sido pior sem as exportações fictícias de plataformas de exploração de petróleo, anotaram os autores do estudo, repetindo uma ressalva incluída em muitas análises do comércio exterior de 2013. Esse relatório da CNI é mais uma comprovação do fracasso da política industrial adotada nos últimos anos, uma estratégia baseada muito mais no protecionismo e na seleção de setores beneficiados do que na promoção geral de inovações e de ganhos de eficiência. Quanto à parte diplomática, tentar algum tipo de ação conjunta com os Brics, como sugere a CNI, seria uma perda de tempo. Os Brics têm poucos interesses comuns na área comercial e o maior deles, a China, há muito tempo traçou seu roteiro.