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O País no cenário da OCDE

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Por Redação
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A economia brasileira deve crescer 7,5% neste ano, 4,3% no próximo e 5% em 2012, superando a média mundial e deixando longe as potências mais desenvolvidas, segundo as novas projeções da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada por 33 países, na maior parte avançados. Os emergentes, incluído o Brasil, continuarão sendo os principais motores da atividade global e deles dependerá, em boa parte, a expansão do comércio - 12,3% este ano, 8,5% em 2011 e 7,5% no seguinte. Mas há sinais de perigo no caminho brasileiro. Os economistas da organização apontam as pressões inflacionárias e recomendam medidas fiscais e monetárias para tornar a trajetória mais tranquila e mais previsível. As autoridades agiriam bem, se dessem alguma atenção às advertências. A economia brasileira perdeu impulso depois do forte crescimento do início do ano, mas o consumo privado, favorecido pelo crédito firme e pelos ganhos de renda, deve garantir um repique, segundo o relatório. Nessa fase do ciclo, convém eliminar o resto dos estímulos fiscais e monetários concedidos durante a crise, avaliam os autores do estudo. Na prática, isso deve significar nova alta de juros e um esforço de contenção do gasto público, embora o documento não detalhe as medidas aconselhadas. A inflação brasileira deve ficar até 2012 acima do centro da meta, com taxas previstas de 5,6%, 5,3% e 5,1%. Essas estimativas são menos otimistas que as divulgadas ultimamente pelas autoridades brasileiras. Não indicam descontrole, mas a persistência de fortes pressões por mais dois anos - uma perspectiva ruim para um governo iniciante. Os últimos dados parecem confirmar a avaliação de uma economia aquecida. O consumo continua forte, a massa de rendimentos permanece em crescimento e o Índice de Atividade Econômica do Banco Central - crescimento de 0,7% de agosto para setembro - aponta uma reaceleração considerável. A tabela divulgada pela OCDE inclui um dado importante sobre o setor externo, mas não comentado no breve texto a respeito do Brasil. O déficit na conta corrente do balanço de pagamentos deve alcançar neste ano 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) e aumentar para 3,2% e 4% nos anos seguintes. Essa evolução reflete, com clareza, não só os efeitos do dólar barato sobre exportações e importações, mas também a expansão da demanda interna, alimentada não só pelo crédito e pelo aumento da renda, mas também pelo custeio do setor público. Não há, no relatório, comentário nem sugestão a respeito desse ponto, mas o novo governo acertaria, também, se inscrevesse o ajuste das contas externas no topo de sua agenda. Alguns países têm conseguido sustentar déficits em torno de 4% do PIB por vários anos, mas o mais prudente é não apostar nessa possibilidade, até porque o financiamento da conta corrente depende, cada vez mais, de empréstimos e investimentos instáveis. A deterioração das contas externas não decorre só das condições brasileiras, mas também dos desarranjos globais. A desaceleração da economia no mundo rico foi mais severa do que a OCDE havia previsto no semestre passado, como lembrou seu secretário-geral, Angel Gurría. Neste ano, os países-membros da organização devem crescer 2,75% (mesma estimativa de maio), mas a projeção para 2011 foi reduzida de 2,75% para 2,25%. Em 2012, o crescimento poderá voltar ao ritmo de 2010. Nesses dois anos, o desemprego continuará elevado. Em 2012 ainda estará em 8,78% nos Estados Unidos e em 9,2% da força de trabalho na zona do euro. O grande desafio para as economias desenvolvidas, segundo a OCDE, será conciliar a arrumação das contas públicas com a manutenção de algum estímulo ao crescimento. Será preciso, segundo Gurría, começar o ajuste em 2011 para fortalecer a confiança dos mercados. Governos altamente endividados não poderão fazer muita coisa sem o apoio dos credores privados, como indicam os apuros das autoridades irlandesas, portuguesas e gregas.