
06 de agosto de 2014 | 02h05
Desde o fim da semana, quando começou a circular a nova edição da revista Veja, o público ficou sabendo - a partir da transcrição de conversas registradas em um vídeo de 20 minutos entre o titular do escritório da Petrobrás em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, e dois advogados - da montagem de um esquema escabroso de blindagem da cúpula da estatal. A "cena do crime" em preparo seria o recinto onde a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado tomaria os depoimentos de atuais e ex-altos figurões da empresa sobre o nefasto negócio da compra da Refinaria de Pasadena, iniciado em 2006. Segundo o Tribunal de Contas da União, a operação deixou um rombo de US$ 792 milhões - se não for ainda maior a perda.
Um servidor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Paulo Argenta; o assessor da liderança do governo no Senado, Marco Rogério de Souza; e o seu colega da liderança do PT, Carlos Hetzel, elaboraram as perguntas que o relator da CPI, o também petista José Pimentel - por sinal líder do governo no Congresso -, deveria fazer à atual presidente da Petrobrás, Graça Foster, ao seu antecessor José Sérgio Gabrielli e ao ex-diretor Nelson Cerveró. Este último foi o autor do resumo "técnica e juridicamente falho", como viria a dizer a presidente Dilma Rousseff, ao se referir ao documento em que se baseou para aprovar a aventura de Pasadena, quando, ministra de Lula, chefiava o Conselho de Administração da petroleira.
Já seria um escárnio se a isso se limitasse o jogo de cartas marcadas que completaria a desmoralização da CPI de 13 membros, 10 dos quais governistas, e por esse motivo boicotada pela oposição (que tinha proposto o inquérito, afinal). Mas o suprassumo foi o repasse das perguntas aos perguntados e a escolha, de comum acordo, das respostas mais convenientes para a empresa, o PT e o Planalto. Ontem, o Estado descreveu o passo a passo da farsa. Barrocas, o homem da Petrobrás na capital, apanhava no gabinete da liderança petista do Senado o questionário. A "cola" era preparada na sala de reuniões anexa ao gabinete de Graça, na sede da Petrobrás em Brasília. Acertados os ponteiros, o material seguia para o comando da empresa, no Rio.
Tentando tapar o sol com peneira, a estatal diz que não antes, mas depois dos depoimentos se promoviam reuniões para desdobrá-los em novas perguntas para "subsidiar" oitivas futuras. Os novos depoentes, diz ainda a Petrobrás, participavam de "simulações de perguntas e respostas" para estar à altura do imaginário crivo dessa CPI de cartolina. A outra, integrada por deputados e senadores, que a oposição conseguiu criar para se contrapor ao inquérito açambarcado pela maioria governista do Senado, tampouco ficou imune à ação do PT para jogar areia nos olhos dos parlamentares. O PSDB descobriu que 15 perguntas feitas pelo senador Pimentel a Graça Foster, em 27 de maio, foram repetidas duas semanas depois, quando ela foi falar à Comissão Mista, pelo relator do colegiado, o companheiro Marco Maia.
Pimentel tem sido aconselhado a deixar a relatoria, até pelo comitê de campanha de Dilma, mas se nega. O certo também seria Graça se licenciar da Petrobrás, agora que, além de tudo, o TCU deverá acrescentar seu nome aos dos 11 executivos passíveis de serem responsabilizados pelo prejuízo de US$ 92,3 milhões à empresa, no curso do affair Pasadena.
Encontrou algum erro? Entre em contato