17 de dezembro de 2015 | 02h55
Mais uma vez ela havia preferido o populismo e a gastança, desprezando a opinião do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, favorável a um resultado primário equivalente a 0,7% do PIB. Mesmo esse resultado seria modesto, mas pelo menos indicaria um compromisso de melhora das contas públicas, indispensável para a recuperação da economia nacional.
Noticiada pela televisão já na terça-feira à noite, a decisão da presidente foi imediatamente interpretada como sinal para a demissão, adiada muitas vezes, do desprestigiado e até humilhado ministro da Fazenda. Ele mesmo havia, na semana anterior, ameaçado sair, se a meta fiscal fosse reduzida a zero, como foi, na prática, quando a presidente mais uma vez deu preferência à opinião do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Com isso, mais uma vez prevaleceu a desastrosa “nova matriz econômica” implantada no mandato anterior.
Ontem, no entanto, o ministro da Fazenda continuava no posto, falando sobre medidas necessárias para a recuperação das contas públicas e do crescimento e negando como assuntos de folhetim as notícias sobre sua provável saída.
Quando a Fitch anunciou a decisão, Levy estava em reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros, discutindo a tramitação de medidas de ajuste. Enquanto isso, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, comentava numa entrevista coletiva a importância de bem escolher o substituto de Levy. O noticiário do Broadcast, serviço de informação em tempo real da Agência Estado, estava recheado, e assim continuou depois do comunicado da Fitch, de comentários e análises colhidos no mercado sobre a esperada sucessão na Fazenda.
Quando a presidente deu preferência à opinião do ministro Nelson Barbosa, no envio da proposta orçamentária ao Congresso, no fim de agosto, a consequência imediata foi o rebaixamento do País pela S&P. A história agora se repetiu, mas com alguns pontos agravantes, como a referência ao processo de impeachment, aos dados econômicos piores que os daquele momento e à enorme dificuldade para a melhora do resultado fiscal em 2016.
O ministro da Fazenda quase festejou o rebaixamento, descrevendo-o como um estímulo a mais para fazer a coisa certa. No Congresso, parlamentares se apressaram a mudar de novo a meta de superávit primário, eliminando o zero e deixando só o 0,50%. Nem os Trapalhões fariam uma história mais aloprada. Além disso, há uma originalidade: o governo brasileiro foi além da comédia e inventou a tragicomédia de pastelão.
Depois de tudo, a permanência do ministro Levy no governo só terá sentido se a presidente se livrar do ministro do Planejamento ou se o atual ministro da Fazenda aceitar a permanência numa posição subalterna e humilhante. A continuação da história dependerá, é claro, de como a presidente Dilma Rousseff perceba os acontecimentos e selecione a ação mais conveniente. Mas para isso ela precisará exibir uma capacidade de percepção jamais demonstrada em público.
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