11 de março de 2014 | 02h08
Atestada numa pesquisa encomendada ao Ibope Inteligência pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), a confiança preferencial do público pelo que sai, dia sim, o outro também, no jornal - incluindo anúncios - é o seu maior patrimônio e passaporte para o futuro. Confiança é sinônimo de segurança, e esta, por sua vez, se alicerça numa tradição em que o acerto predomina amplamente sobre o erro - na escolha do que e como levar ao leitor, na afinidade com as queixas e as aspirações da população e na coerência dos juízos de valor sobre as grandes questões da atualidade.
O levantamento mostra que 53% dos entrevistados confiam sempre ou muitas vezes nos jornais impressos. Os demais índices são: 50% (rádio), 49% (televisão), 40% (revistas), 28% (sites), 24% (redes sociais) e 22% (blogs). A atitude do público segue o mesmo padrão quando se trata do material publicitário que lhe é oferecido nos diversos meios. A confiança dos leitores de jornal no que outrora se chamava de "reclames" é de 47%, ante 42% em relação aos comerciais do rádio e da TV, seguindo-se os das revistas (36%), dos sites (23%), das redes sociais (22%) e dos blogs (19%). Não será exagerado dizer que a confiança no conteúdo editorial se estende, por tabela, aos anúncios veiculados nos diários.
"A história e a credibilidade do meio impresso continuam sendo um referencial para as pessoas", avalia o jornalista Thomas Traumann, titular da Secom. O reconhecimento do governo é insuspeito por definição. O poder, seja qual for o seu ocupante de turno, é a vidraça contra a qual o jornalismo atira as suas pedras mais pontiagudas, porque é a sociedade quem paga pelos seus pecados - e para contrabalançar propensão congênita dos poderosos para esconder ou disfarçar as suas malfeitorias. Ainda no século 18, foi o que levou o americano Thomas Jefferson a dizer que, entre viver em um país sem imprensa ou em um país sem governo, preferia a segunda alternativa.
A função singular dos jornais em papel para a defesa e o aperfeiçoamento do sistema democrático - que resulta não apenas da confiança que o público nela deposita, mas também, significativamente, da influência que exerce junto aos atores sociais e a esfera pública - se mantém não obstante os seus baixos índices de circulação. Apenas 24% dos entrevistados na pesquisa Secom/Ibope disseram ler jornal em papel, ante 97% dos que assistem à TV e 46% dos que acessam a internet. Dos leitores, apenas 6% o fazem diariamente. Entre os telespectadores, 65% ligam o aparelho todos os dias (60% no caso do rádio). Fazem o mesmo 26% dos internautas.
O tempo gasto por cada um desses grupos com o seu meio preferido é outro dado problemático para o jornal impresso. A julgar pela amostra, a internet ocupa 3h39 do dia do brasileiro, de segunda a sexta-feira; a televisão, 3h29; o rádio, 3h07; o jornal, apenas 1h07. Esse período se amplia nos fins de semana - o que os leitores deste texto, por exemplo, hão de saber por experiência própria. O uso da internet também aumenta (10 minutos). A pesquisa não deixa claro o tempo dedicado pelos telespectadores, ouvintes e internautas para se divertir ou se informar. Nos jornais clássicos, a oferta de informação prevalece.
Outra característica dos diários, que independe do tamanho do seu leitorado, por sua natureza estrutural, é ser a matriz da informação que chega ao público pelos demais meios. O jornal impresso continua a ser referência para o modelo dos noticiosos da TV e do rádio. Artigos e reportagens impressos desencadeiam debates nas redes sociais. Há lugar para jornalismo de qualidade em todas as mídias. Mas o seu porto de abrigo é o jornal impresso.
Encontrou algum erro? Entre em contato