
11 de novembro de 2014 | 02h04
É desigual a capacidade de combater o mosquito nas várias regiões. O planejamento também é falho, assim como a execução dos programas, que não contemplam a vigilância permanente, mas apenas ações preventivas de curto prazo ou mutirões em situações críticas. Ano após ano, relatórios do Ministério da Saúde mostram Estados e municípios que se mantêm alertas no controle da doença ao lado de outros que pouco investem na educação da população, no treinamento de agentes para o controle dos focos do mosquito e na adequação da rede de saúde.
Sem a vigilância permanente nem planejamento que considerem mudanças do cenário urbano (invasões de terra, grandes obras públicas, aumento de imóveis vagos, entre outros), os resultados positivos não se sustentam e, frequentemente, regiões que ocupam condição exemplar num ano migram para o ranking das que sofrem com a doença no período seguinte.
Mesmo São Paulo, a cidade mais rica do País, tem vivido esse movimento pendular. Entre janeiro e junho, dez pessoas morreram vítimas da dengue; no ano passado, foram duas. A cidade acumulou, no primeiro semestre deste ano, 12.531 casos da doença, um volume 400% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. Antes disso, em 2010 ocorreu o que foi considerado o pior surto de dengue dos últimos dez anos. Mesmo assim, o número de casos ficou em 6 mil na época, menos da metade do registrado nos primeiros seis meses deste ano.
O Levantamento Rápido do Índice de Infestação pelo Aedes aegypti (Liraa) aponta para a situação de alerta em dez capitais brasileiras: Belém, Porto Velho, Maceió, Natal, Recife, São Luís, Aracaju, Vitória, Cuiabá e Porto Alegre. Dos 1.463 municípios pesquisados, 533 estão em situação de alerta e 117 correm o risco de sofrer uma epidemia da doença.
As causas mais comuns da proliferação do Aedes aegypti são o lixo domiciliar e depósitos residenciais, como vasos de plantas e calhas entupidas, etc. Na Região Metropolitana de São Paulo, que atualmente sofre com a seca, autoridades temem que o armazenamento incorreto da água possa ampliar ainda mais os criadouros.
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, considera delicada a situação. Segundo ele, o País vai pagar um preço alto se houver negligência no controle do mosquito. Por isso, o governo pretende reforçar o combate ao Aedes aegypti no verão.
Dados do Ministério da Saúde indicam que o primeiro caso da febre chikungunya foi registrado em setembro no Brasil e, até 25 de outubro, outros 824 surgiram, sendo 785 autóctones. Conforme a OMS, o custo do tratamento de um paciente com dengue ou febre chikungunya é de US$ 1,5 mil e a esse valor deve ser somado o de 19 dias de trabalho perdidos.
Portanto, mais do que o fumacê, que só mata o mosquito adulto, não atingindo as larvas, e curtas campanhas de conscientização da população, são necessários a preparação dos profissionais de saúde e o envolvimento das autoridades responsáveis pelo planejamento urbano, pela rede de ensino, pelo saneamento e por todas as áreas que podem colaborar nessa missão. E, na rede de saúde, médicos e enfermeiros devem se atualizar para não confundir os sintomas das duas doenças, uma vez que vários deles são comuns e a demora no tratamento agrava significativamente a situação do paciente.
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