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O perigoso recuo da confiança

A insegurança de consumidores e de empresários aumentou com a nova crise política

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Por Redação
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Confiança, o insumo mais precioso para a recuperação da economia brasileira, é também um dos mais escassos, neste momento, como continuam mostrando as sondagens de expectativas de consumidores e de empresários. A insegurança aumentou com a nova crise política, iniciada em maio, e enquanto perdurar será um entrave a decisões importantes para a reativação dos negócios e a criação de empregos. De junho para julho o Índice de Confiança do Comércio caiu 2,3 pontos, para 83,4, voltando ao nível de março. A “mudança mais sintomática da piora do ambiente de negócios foi a perda de fôlego do segmento revendedor de duráveis”, comentou o superintendente de Estatísticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloísio Campelo Jr. Até junho os comerciantes dessa área vinham mostrando maior animação, principalmente por causa da baixa dos juros e da liberação de recursos do FGTS. Em julho, houve sinais de maior insegurança em 11 dos 13 segmentos cobertos pela pesquisa. Houve piora tanto nas expectativas como na avaliação das condições presentes.

A nova queda de confiança dos consumidores – a última alta havia sido registrada em maio – já havia sido apontada pela FGV. Em julho, a baixa foi determinada pela piora de humor dos entrevistados com maiores níveis de renda. Não houve, no relatório divulgado, explicação para esse detalhe. Mas os consumidores com maior poder de compra são também, quase certamente, os mais informados sobre as condições políticas.

Um tanto estranho à primeira vista foi o aumento de confiança apontado na pesquisa mensal sobre o setor da construção, também realizada pela FGV. Mas o aumento foi muito pequeno, de 0,4 ponto, e levou o indicador para 74,6 pontos, ainda muito longe da linha de indiferença, no nível 100. Mas o novo número ficou apenas 7 pontos acima do mínimo histórico e cerca de 25 pontos abaixo da média registrada em toda a série.

O pior momento pode ter sido superado, segundo os entrevistados na pesquisa da FGV. Uma opinião semelhante foi apresentada, na manhã de quarta-feira, pelo presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Gilberto Abreu. “Estamos saindo do vale”, disse ele, numa entrevista à imprensa. No mesmo comentário, no entanto, ele negou estar vendo um novo ciclo de crescimento da economia.

Segundo a Abecip, os financiamentos imobiliários concedidos com recursos da poupança e do FGTS totalizaram R$ 51,7 bilhões no primeiro semestre e foram 3,7% inferiores à soma concedida um ano antes. A nova estimativa para o ano é de alta de 1%, puxada pelo aumento de 4,1% nas linhas sustentadas com dinheiro do FGTS. Não chega a ser um salto, mas qualquer avanço no setor imobiliário será bem-vindo. Se isso abrir espaço a novas construções, estímulos serão transmitidos a vários segmentos da indústria, como os de aço, cimento, plásticos e vidros.

Executivos da indústria siderúrgica, no entanto, ainda se mostram pessimistas quanto à evolução do mercado interno em 2017. O Instituto Aço Brasil (IABr) mantém a projeção, já anunciada em abril, de produção de 32,5 milhões de toneladas neste ano, volume 3,8% maior que o do ano anterior. Mas essa estimativa é baseada na previsão de 9,1% de aumento das exportações, para 14,6 milhões de toneladas (6,4% na avaliação anterior). Para o mercado interno a expectativa é de vendas de 16,3 milhões de toneladas, com recuo de 1,3% em relação ao total de 2016.

Quanto mais lenta a reativação, mais duradoura será a capacidade ociosa nas indústrias e mais demorado o retorno dos investimentos produtivos. No primeiro semestre, o faturamento da indústria de máquinas e equipamentos foi 6,7% menor que o de janeiro a junho de 2016, apesar de alguma reação em junho, segundo a associação do setor, a Abimaq.

Esse amplo cenário de insegurança inclui mais de 13 milhões de desempregados, visíveis em quase todo o País, mas pouco perceptíveis para quem se dedica a alongar os impasses na Praça dos Três Poderes.