
25 de maio de 2010 | 00h00
Lula anunciou aos prefeitos que o objetivo do novo programa de combate ao crack é aproximar os viciados dos serviços de saúde, mediante o aumento ? nas áreas consideradas mais vulneráveis das cidades com população superior a 400 mil habitantes ? do número de consultórios de rua e de pontos de acolhimento de usuários, onde eles podem comer, tomar banho e descansar.
Criados no final do ano passado, os consultórios de rua contam com assistentes sociais, psicólogos e enfermeiros que fornecem orientação sobre tratamentos e oferecem cuidados básicos em locais onde os viciados em crack se reúnem. Estão previstos também novos Centros de Atenção Psicossocial e a transformação dos 110 Centros já existentes em unidades abertas durante as 24 horas do dia. O governo anunciou ainda que construirá 60 abrigos para receber usuários de crack "em situação de risco", ou seja, ameaçados por traficantes, onde poderão permanecer de 30 a 40 dias.
O discurso do presidente Lula é indissociável da campanha da pré-candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff. Desde o Dia das Mães ela vem tratando do tema em eventos pré-eleitorais. O combate ao crack também foi por ela abordado nas últimas inserções publicitárias do PT e de outros partidos da base aliada, no rádio e na TV. "Estou muito preocupada com o crack. Ele mata, é muito barato e está entrando em toda periferia e em pequenas cidades", diz a ministra nessas inserções, depois de prometer enfrentar "essa ameaça com autoridade, carinho e apoio".
Em seu discurso aos prefeitos, Lula afirmou: "O crack é uma coisa ainda nebulosa. O que a gente sabe é que o crack não é uma droga de rico, é uma droga mais para pobre. E a gente sabe que ela está sendo utilizada não nos grandes centros urbanos, está sendo utilizada nas pequenas cidades, inclusive com criança em escola", afirmou o presidente, depois de prometer que, quase ao término de seu mandato, irá "jogar duro" contra narcotraficantes ? o que não fez em sete anos e meio de governo.
A exemplo de projetos que foram recentemente anunciados pelo MEC, como a criação de um exame nacional único para seleção de professores para as redes municipais e estaduais de ensino básico, o plano de combate ao crack é mais uma iniciativa elaborada às pressas, com o objetivo de render dividendos eleitorais, sem nenhuma garantia de que será posto em prática pelo atual e pelo próximo governo.
Encomendado em abril ao chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Armando Felix, o plano prevê gastos de R$ 400 milhões, ainda este ano, em ações de prevenção, tratamento de usuários de crack e repressão ao tráfico. No entanto, várias ações semelhantes, que foram anunciadas no ano passado, até hoje não saíram do papel por falta de dotação orçamentária.
O ministro da Segurança Institucional reconhece que "não há grandes novidades" entre o plano anunciado pelo presidente Lula na Marcha dos Prefeitos e as medidas que o governo já havia anunciado para o setor há menos de um ano. As únicas novidades, diz ele, são "a intensificação dos esforços e o afluxo de mais recursos para podermos fazer as coisas melhor, mais depressa e mais integrados".
O consumo de crack tem um efeito devastador na sociedade, que só será contido por meio de uma política mais articulada do que a anunciada por Lula no comício dos prefeitos.
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