
19 Novembro 2015 | 02h55
Essa é uma contradição admissível no caso de coalizões de emergência destinadas a superar crises graves que colocam em risco a estabilidade institucional. Poderia até ser o caso no Brasil. Mas não é – pelo menos por enquanto – seja porque as instituições fundamentais de nosso sistema democrático se têm demonstrado suficientemente sólidas, seja porque as principais lideranças políticas, especialmente as que estão no poder, revelam-se incapazes de compartilhar de fato esse poder para tirar o País do impasse político e do atoleiro econômico. Ninguém demonstra desprendimento ou disposição de colocar em risco seus ativos políticos em favor do bem comum.
E foi exatamente isso que fez o PMDB no curioso encontro que promoveu na terça-feira em Brasília, no qual foi tudo montado para mostrar que o partido é exatamente aquilo que cada uma de suas muitas facções quer que ele seja. Na fala principal, Michel Temer exercitou a retórica da conciliação do inconciliável, colocando-se suficientemente distante de Dilma Rousseff para manter animados os defensores do rompimento com o governo petista, mas também minimamente fiel à aliança com o Planalto para tranquilizar os muitos correligionários que desfrutam das benesses do poder.
Temer recorreu a uma sucessão de clichês: “Nós estamos juntos procurando soluções para o País. Não é de hoje que temos falado em reunificar o pensamento nacional e pacificar a Nação. Não é da índole do brasileiro a disseminação do ódio”. E ainda se permitiu um rasgo de modéstia – “por enquanto não, obrigado” – quando grupos entoaram o coro “Brasil/Pra frente/Temer presidente”. E estendeu-se na explicação: “Vamos esperar 2018. Vamos lançar um grande nome do PMDB. Estou encerrando minha vida pública”. Acredite quem quiser, até porque ele já contratou um advogado especialista em legislação eleitoral para tentar desvincular sua candidatura a vice em 2014 da candidatura de Dilma Rousseff, de modo a impedir que eventual cassação do mandato da presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atinja também seu mandato de vice-presidente, impedindo-o de assumir a chefia do governo.
Em resumo, o “congresso” peemedebista, que chegou a ser visto como primeiro passo para a formalização do rompimento com Dilma, resumiu-se a uma encenação da qual o PMDB saiu exatamente como entrou: confortavelmente instalado no governo e à espera da melhor oportunidade para assumir o papel político a que se considera destinado diante da falência do projeto de poder do PT. Essa oportunidade parece estar reservada para o meio do próximo semestre, quando os previsíveis agravamentos da crise econômica e do enfraquecimento político de Dilma e do PT coincidirão com a Convenção Nacional do PMDB, agendada para o mês de março.
Até lá – certamente Temer torce também para isso – o partido pode ter-se livrado do constrangimento de ostentar como uma de suas principais lideranças o mendaz presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, alvo de hostilidades na reunião de Brasília. E, acima de tudo, o País estará a apenas sete meses das eleições municipais, estratégicas para o fortalecimento da hegemonia política de um partido que fará o possível para poupar seus candidatos de qualquer tipo de associação com tudo o que o PT representa.
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