Imagem ex-librisOpinião do Estadão

O poder da mentira

É mentiroso e hipócrita, ou profundamente ignorante, quem apregoa “nenhum direito a menos” ao mesmo tempo que suprime o direito dos cidadãos de ir e vir livremente, em manifestações como a frustrada greve geral da sexta-feira passada

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Por Redação
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Não há nada mais demagógico, populista e antidemocrático do que a palavra de ordem “nenhum direito a menos” levantada em defesa de interesses corporativos no momento em que o País enfrenta o enorme desafio de promover reformas que possibilitem a retomada do crescimento econômico. É mentiroso e hipócrita, ou profundamente ignorante, quem apregoa “nenhum direito a menos” ao mesmo tempo que suprime o direito dos cidadãos de ir e vir livremente, em manifestações como a frustrada greve geral da sexta-feira passada, em que uma bem planejada e executada ação violenta promoveu, logo nas primeiras horas, a interdição de vias públicas vitais para o escoamento do trânsito, por meio de barricadas formadas com a queima de pneus e toda sorte de objetos. E que dizer da costumeira depredação de bens públicos e privados por baderneiros que, no mínimo, são tolerados pelos organizadores dessas manifestações? É esse o exemplo que pretendem dar ao País os fariseus das causas “populares”?

Um dos direitos humanos inalienáveis é o da liberdade, que implica a livre manifestação do pensamento. É absolutamente saudável para o fortalecimento das instituições democráticas a manifestação pacífica, individual ou coletiva, de apoio ou repúdio a agendas políticas, econômicas e sociais. Esse é um instrumento legítimo de pressão sobre os poderes constituídos. Mas a natureza democrática desse tipo de ação exige a contrapartida do respeito às opiniões divergentes. É no mínimo antidemocrático impedir que um trabalhador que não apoia um movimento grevista exerça o seu direito de cumprir normalmente sua rotina diária porque os meios de transporte foram interditados à força.

Essa “greve geral” foi decretada por lideranças sindicais atreladas a partidos políticos, como o PT, que decidiram radicalizar o discurso populista como último recurso de sobrevivência após a derrocada do lulopetismo. O pretexto foi protestar contra as reformas trabalhista e da Previdência, descritas pelas centrais sindicais e pelo próprio PT, em propaganda na mídia eletrônica, como destinadas a “suprimir direitos dos trabalhadores” e “acabar com a aposentadoria”. São mentiras deslavadas.

É claro que os projetos de reformas apresentados pelo governo Temer podem e devem ser aperfeiçoados. E isso está sendo feito, em particular com a reforma da Previdência, que foi amplamente negociada no Congresso até o ponto em que o Planalto decidiu que não pode ceder mais sob o risco de desfigurá-la. A reforma trabalhista, por sua vez, já foi aprovada pela Câmara e será votada pelo Senado. O lulopetismo, no entanto, não muda o discurso. Continua apregoando as mentiras de que a reforma da Previdência visa a “acabar com a aposentadoria” e a trabalhista vai “suprimir direitos” dos trabalhadores.

Veja-se a seguinte declaração sobre o que é preciso fazer para “aquecer a economia”: “Investir em infraestrutura, inovação tecnológica, aumento da produtividade e geração de emprego e renda”. Um diagnóstico “neoliberal”? Opinião do ministro da Fazenda? Não. É de autoria do notório petista Wagner Freitas, o bancário que preside a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Freitas preconiza essas medidas como alternativa à “redução de gastos” que seria o principal objetivo da reforma previdenciária. Redução de gastos não é fim, é meio. No caso, meio de impedir a falência do sistema previdenciário. Mas se é tudo tão fácil, por que o governo petista de Dilma Rousseff não se consagrou resolvendo o problema?

Por falta de alternativa, o lulopetismo vai continuar mentindo. Até porque tem conseguido iludir a maioria dos brasileiros com a farsa de que o governo quer acabar com a aposentadoria e com os direitos dos trabalhadores. O País está acreditando numa conspiração contra o sistema previdenciário, quando o objetivo da reforma é exatamente preservá-lo.

Contra o poder da mentira, resta esperar que o Congresso continue dando apoio às reformas e não prive os brasileiros do direito de ter esperança no futuro.