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O preço da intolerância sindical

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Por Redação
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Graças ao avanço da tecnologia, que tornou as fábricas menores e mais flexíveis, os conglomerados industriais podem deslocar as linhas de produção para áreas onde podem operar com custos mais baixos, em termos de salários, encargos sociais e carga tributária. Os especialistas chamam esse processo de "relocalização industrial". Ao operar com custos menores, as empresas podem reduzir o preço final de seus produtos, o que as torna mais competitivas na disputa pelo mercado.Na Europa, por exemplo, grupos empresariais ingleses, franceses e alemães estão transferindo fábricas de confecções, automóveis e máquinas para a Eslováquia, Eslovênia, Polônia, Hungria e Lituânia - países onde a mão de obra tem alta escolaridade e os salários são bem mais baixos. O mesmo ocorre nos EUA, com linhas de produção deslocadas para a China, Índia e Coreia do Sul.O processo de "relocalização industrial" também ocorre no território brasileiro. Desde a década de 1990, empresas industriais de grande porte vêm transferindo linhas de produção situadas em São Paulo para Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e até para Estados do Nordeste, com o objetivo de obter vantagens comparativas, em termos de salários e encargos. No setor têxtil, por exemplo, várias empresas catarinenses transferiram unidades do Vale do Itajaí para o Ceará e Maranhão. No setor automobilístico, as montadoras trocaram o ABC, onde o nível médio salarial era alto e o Sindicato dos Metalúrgicos fazia greves pelos motivos mais banais, por cidades como Gravataí (RS), Salvador (BA), São José dos Pinhais (PR), São Carlos (SP), Sumaré (SP), Juiz de Fora (MG), Resende (RJ) e Porto Real (RJ). Em 1975, mais de 85% da produção automobilística brasileira saía de São Bernardo e São Caetano. Em 2009, o porcentual ficou em torno de 23%. Por causa do radicalismo de algumas lideranças sindicais, o setor automobilístico voltou a ser objeto de novas mudanças de local de linhas de produção. E, por ironia, elas estão sendo provocadas pela General Motors (GM), que no final dos anos 90 surpreendeu a concorrência quando decidiu produzir o Celta não em São Caetano ou em São José dos Campos, mas na cidade gaúcha de Gravataí. Esta semana, a empresa anunciou que, por causa de dificuldades criadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, voltará a investir na unidade de São Caetano. Controlado pelo PSTU, um pequeno partido de esquerda radical e um dos raros focos de resistência sindical ao governo Lula, o sindicato se recusou a negociar a flexibilização da jornada de trabalho com a empresa, que propunha a criação de banco de horas. Por meio dele, a jornada é reduzida nos períodos em que as vendas caem e as horas não trabalhadas são repostas nos períodos em que o mercado está aquecido, sem necessidade de contratação de mais operários. Com o banco de horas, que hoje é adotado nas mais variadas atividades produtivas, as empresas podem ajustar a jornada de trabalho à demanda do mercado.Como todas as concorrentes já negociaram com as lideranças sindicais a criação do banco de horas nas cidades onde suas linhas de produção estão instaladas, a GM ficou numa posição difícil. Por isso, em vez de abrir mais uma linha de produção na fábrica de São José dos Campos, a empresa destinará R$ 700 milhões para expandir a unidade de São Caetano, que hoje opera na capacidade máxima, produzindo 220 mil veículos por ano. A ideia é aumentar a produção para 280 mil veículos/ano, a partir de 2012.A decisão foi comemorada no ABC, cujas lideranças sindicais, que sentiram na pele os efeitos da fuga das empresas automobilísticas da região, demonstraram maturidade nas negociações com a GM. E foi lamentada no Vale do Paraíba, região que, por causa da intolerância do Sindicato dos Metalúrgicos de São José, ficará sem os empregos e a receita tributária que a nova unidade da GM poderia gerar. Esse episódio mostra que, quando os líderes sindicais põem o radicalismo ideológico à frente dos interesses de sua corporação, seus liderados saem prejudicados.