
09 de fevereiro de 2014 | 02h08
Tão importante quando o número absoluto é a taxa anual de aumento dessa frota, de 3,6%. Ela é quase o dobro da taxa dos carros, que foi de 1,9% entre 2011 e 2012. Seu crescimento é rápido - passou de 756 mil em 2008 para o esperado 1 milhão deste mês. Ou seja, a continuar assim, as motos estão destinadas a ocupar, em breve, lugar cada vez mais importante na frota de veículos de transporte individual de São Paulo.
Até agora, contudo, as autoridades não parecem ter atentado devidamente para as características e consequências dessa mudança nos meios de transporte da capital. Em 2013, no âmbito da administração municipal, a principal medida destinada ao mesmo tempo a estabelecer um pouco mais de disciplina para os motociclistas e a aumentar sua segurança foi a criação de 103 bolsões para as motos pararem na frente dos carros, enquanto aguardam a abertura do sinal. "Não vejo política pública avançada para motocicleta. O que a Prefeitura faz são coisas tímidas", afirma a respeito o presidente do Sindicato dos Motoboys (Sindimoto), Gilberto Almeida dos Santos.
Embora a categoria que ele representa não se destaque por um comportamento adequado no trânsito nem pelo acatamento da lei que regulamenta sua atividade, nesse caso ele tem razão. O comportamento das autoridades em geral, não apenas as municipais, tem sido mesmo tímido no trato dessa questão. Um bom exemplo disso - que certamente desagrada ao presidente do Sindimoto - é a falta de firmeza na fiscalização da lei que estabeleceu uma série de exigências para os motoboys, tais como a de frequentar um curso de 30 horas sobre segurança no trânsito e como se comportar para respeitar os direitos dos pedestres e motoristas de outros veículos, assim como instalação de antena que corta linha de cerol e uso de proteção nas pernas.
Embora a maior parte das medidas se destine a aumentar sua segurança, tendo em vista o elevado número de acidentes com mortos e feridos envolvendo as motos, os motoboys resistem a acatá-las, alegando que acarretam custos elevados para eles. Há exatamente um ano, em fevereiro de 2013, uma manifestação de motoboys, pedindo mais tempo para se adaptar à lei, parou durante várias horas a Avenida Paulista. O prazo-limite dado então para a efetiva aplicação da lei, com multas para os infratores, está terminando neste mês e até agora não há sinal de que as autoridades vão agir para que isso aconteça.
O poder público também parece não se ter dado conta das importantes mudanças ocorridas dentro do próprio grupo dos motociclistas. A principal delas é que os motoboys, ou seja, os que usam o veículo profissionalmente, se tornaram minoria. A grande maioria é hoje constituída por pessoas que utilizam a moto como meio de transporte de casa para o trabalho ou para a escola. Não por acaso, um estudo da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), feito em 2011, indicava que, dos 512 motociclistas mortos naquele ano, apenas 8% eram motoboys.
Isto indica claramente que, além de mais numerosos, os demais motociclistas se comportam de forma tão ou mais imprudente no trânsito. O papel de vilão passou a ser mais deles que dos motoboys. Sobram razões, portanto, para que eles sejam submetidos às mesmas regras, e com fiscalização igualmente rigorosa, dos motoboys. E um estudo do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas, feito em 2013, chama a atenção para outro dado inquietante do problema - o elevado número de motociclistas acidentados que consomem álcool e drogas.
O problema dos motociclistas, que chegam a 1 milhão, é um desafio e tanto.
Encontrou algum erro? Entre em contato