08 de junho de 2011 | 00h00
A prisão de 439 bombeiros deu novo vigor ao movimento, que agora pode se estender para outros Estados, com a mobilização de policiais militares e bombeiros pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n.º 300, que propõe a equiparação de seus salários aos pagos pelo Distrito Federal. Em certos casos, como o do Rio de Janeiro, a equiparação equivalerá à quadruplicação dos atuais vencimentos, o que implicará pesados gastos que muitos Estados não terão condições de cobrir, pois para isso teriam de ferir a disciplina financeira imposta pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Nos termos em que foi colocada inicialmente, a reivindicação dos bombeiros fluminenses é mais do que justificável, pois há muito tempo eles estão com os salários aviltados. Eles alegam que o piso salarial da corporação, de R$ 1.031,38, é o mais baixo de todos os Estados, por isso querem sua duplicação. No Distrito Federal, por exemplo, o piso é de R$ 4.129,73; em Sergipe, o Estado que paga o segundo maior salário, o vencimento inicial da carreira é de R$ 3.012,00, valor que pode aumentar com benefícios como o vale-transporte.
A forma que escolheram para protestar, no entanto, foi irresponsável.
Na noite de sexta-feira, cerca de mil bombeiros e guarda-vidas invadiram o quartel do Comando-Geral dos Bombeiros, no centro do Rio de Janeiro, arrombando os portões. Além disso, levavam em sua companhia esposas, algumas grávidas, e crianças, para, segundo testemunhas, formar um "escudo humano" no caso de uma eventual invasão do local por forças policiais.
Numa operação em que o objetivo não foi unicamente desocupar um prédio público invadido, mas, sobretudo, demonstrar seu poderio, o governo do Estado mobilizou o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, veículos blindados e helicópteros. Em nota, o governo do Estado informou que determinara a prisão dos que, insubordinados, haviam invadido um bem público e transgredido o código de conduta militar.
De maneira não menos insensata do que a demonstrada pelos manifestantes, a força enviada para desocupar o quartel utilizou explosivos para a derrubada dos portões dos fundos, disparou tiros para o ar e lançou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, além de spray de pimenta. Por muito pouco não houve uma tragédia. Todos os ocupantes do quartel foram presos.
Não satisfeito com o uso de força policial desproporcional e injustificável na desocupação do quartel dos bombeiros, o governador Sérgio Cabral, em entrevista coletiva, chamou os manifestantes de "delinquentes" e "vândalos" e afirmou que o movimento tinha inspiração política. Como que para reafirmar uma autoridade que não se questionava, exonerou o comandante dos bombeiros e prometeu que os invasores serão punidos administrativa e penalmente. Desse modo, tornou mais difícil a busca de uma solução negociada para a crise.
Em vez de transmitir tranquilidade à população e um mínimo de serenidade aos envolvidos na crise, Cabral só agravou a situação. Conseguiu tornar mais tensa uma crise que já começou grave. Desse modo, estimulou novos apoios ao movimento reivindicatório. Companheiros dos bombeiros presos fizeram manifestações nas escadarias da Assembleia Legislativa e ganharam o apoio de movimentos que defendem direitos humanos e de deputados estaduais e federais de diferentes partidos.
A mobilização que se inicia em outros Estados pela aprovação da PEC 300 pode dar amplitude nacional à crise que, bem conduzida pelo governo fluminense, poderia ficar circunscrita ao Estado do Rio de Janeiro.
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