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O que esperar de Donald Trump?

O mundo aguarda com a respiração suspensa para saber qual Donald Trump exercerá a presidência dos EUA: se aquele candidato boquirroto, inconsequente e irresponsável ou um político cioso do papel que representa

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Por Redação
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Passando como um trator sobre os adversários e também sobre a poderosa máquina do Partido Republicano, Donald Trump foi eleito contra todos os prognósticos, pondo em xeque a credibilidade da mídia e dos institutos de pesquisas de opinião. Ontem, Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos com os maiores índices de rejeição registrados por um presidente nos últimos 40 anos, de acordo com pesquisa do jornal Washington Post e da rede de televisão ABC. O republicano prestou juramento como o 45.º presidente dos EUA contando com a aprovação de pouco menos de 40% dos norte-americanos. Seus antecessores mais recentes dormiram suas primeiras noites na Casa Branca acalentados por índices bem mais confortáveis: Barack Obama obtinha 68% de aprovação no dia da posse; George W. Bush, 62%; e Bill Clinton, 68%. A cerimônia de transmissão do cargo sofreu o maior boicote de congressistas desde a posse de Richard Nixon, em 1973, quando a Guerra do Vietnã cindia o país ao meio.

Evidentemente, a baixa popularidade de Donald Trump deve-se ao comportamento controvertido adotado por ele, seja como candidato, seja como presidente eleito. Os insultos dirigidos aos críticos – sempre tomados como inimigos figadais –, as parvoíces que propala pela internet a torto e a direito, o desrespeito demonstrado diante de qualquer opinião diferente da sua, o desinteresse pelas minorias e a aversão a qualquer coisa que não pareça “americana o bastante”, tudo compõe um sombrio perfil do homem que a partir de agora comanda os destinos da nação mais poderosa do mundo.

As restrições a Donald Trump extrapolam as fronteiras domésticas e se estendem pelo globo, incluindo países econômica e militarmente aliados dos Estados Unidos. No momento em que os complexos desafios das sociedades modernas requerem líderes com visão abrangente, Trump assume o poder agitando a bandeira do isolacionismo – político, comercial e cultural. Ao agir assim, parece ignorar a dimensão da responsabilidade que a partir de agora repousa sobre seus ombros. Os arroubos incontroláveis contra personalidades tão distintas como a atriz Meryl Streep, o neurocirurgião Ben Carson ou a chanceler alemã Angela Merkel denotam um líder mal preparado para enfrentar os desafios do mundo globalizado. Aliás, Trump refuta a ideia mesma de globalização.

O mundo aguarda com a respiração suspensa para saber qual Donald Trump exercerá a presidência dos EUA pelos próximos quatro anos. Se aquele candidato boquirroto, inconsequente e irresponsável ou um político cioso do papel que representa, adotando um comportamento mais moderado, responsável e conciliador. Em artigo publicado pelo Estado, David Brooks, do jornal The New York Times, destacou a importância de se ater ao que chamou de “Trump presidencial” a partir de agora, em oposição ao “Trump carnavalesco” da campanha. Atribuir importância a seu lado bufão é “alimentar a dinâmica de que ele necessita”, diz. O colunista conclui dizendo que Donald Trump há de ser julgado pelo que fizer, não pelas bobagens que escreveu e disse. De fato, o discernimento que parece lhe faltar como líder do país mais poderoso do mundo não pode se estender aos que têm o dever de acompanhar e fiscalizar o exercício de seu mandato.

Mas é preciso uma boa dose de otimismo para imaginar Donald Trump pendendo à temperança e à magnanimidade. Ele não dá sinais de que esteja disposto a mudar o estilo que, afinal de contas, levou um candidato improvável como ele à Casa Branca. Entretanto, os EUA contam com instituições e instrumentos democráticos sólidos o bastante – a começar por sua Constituição – para conter a inconsequência dos aventureiros. Se a um tempo eleição de um candidato como Donald Trump mostrou que o democrático sistema político americano permite a ascensão ao poder de alguém com seu perfil, a outro poderá mostrar que este sistema dispõe de mecanismos de proteção não só para a segurança dos EUA, mas do mundo.