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Por Redação
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Consumada a revogação do aumento de R$ 0,20 da tarifa dos transportes coletivos de São Paulo - que volta a custar R$ 3,00 -, depois de quase duas semanas de manifestações que começaram na capital e se espalharam, pelo mesmo motivo, por várias cidades do País, é preciso agora pensar nas suas consequências nos planos financeiro e administrativo, tanto para o Estado como para a Prefeitura. Delas vai depender, numa boa medida, a qualidade do serviço, que foi o estopim do descontentamento que explodiu nas ruas. Ao Estado, estima-se que a decisão vai custar R$ 210 milhões em investimentos da Companhia do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Embora esse seja um problema a mais a ser enfrentado na área de transporte, a situação do governo estadual é menos difícil nesse caso do que a da Prefeitura. Segundo o secretário estadual de Planejamento, Júlio Semeghini, o governador Geraldo Alckmin tem autonomia para lidar com R$ 9 bilhões de investimentos. Os recursos destinados a cobrir aquela perda virão de obras que atrasaram ou podem ser adiadas: "Estamos fazendo um levantamento sobre que obras podem ser essas".Para a Prefeitura, a renúncia aos R$ 0,20 do aumento da passagem de ônibus custará cerca de R$ 175 milhões, a serem somados aos subsídios, já elevados, de R$ 1,25 bilhão previstos para o setor este ano. Eles atingirão portanto R$ 1,425 bilhão, uma soma considerável. Segundo o prefeito Fernando Haddad, se a tarifa ficar congelada até o fim de seu mandato - para o Movimento Passe Livre (MPL), que liderou as manifestações, isso é o mínimo, tanto que ameaça voltar à sua reivindicação inicial de tarifa zero -, o custo total da perda será de R$ 2,6 bilhões. Em princípio, esse dinheiro só poderá vir do corte de investimentos, já baixos por causa das dificuldades financeiras da Prefeitura, das quais Haddad não se cansa de reclamar.A situação é complicada, porque a expectativa da população com relação a uma melhora do transporte coletivo cresceu, reforçada pelas manifestações, ao mesmo tempo que diminuíram os recursos disponíveis para isso. Na parte que é de responsabilidade do Estado, a perda é relativamente pequena, tendo em vista os investimentos bilionários em curso no ambicioso programa de expansão das linhas do metrô e de modernização da CPTM. Mas esse esforço só dará resultados a médio e longo prazos, porque a expansão do metrô é muito cara e demorada. Não é possível fazer muito mais e o paulistano terá de conviver por algum tempo com o metrô superlotado. São Paulo está pagando um alto preço pelo atraso histórico na construção desse sistema. A curto prazo, o meio de transporte coletivo do qual se pode esperar alguma melhora é justamente o mais usado - o ônibus. Haddad tem uma boa e rara oportunidade de fazer isso - e a custo relativamente baixo - com a renovação da concessão desse serviço, executado por cerca de 14 mil ônibus e 7 mil vans. A licitação já foi aberta para esse negócio de R$ 46,3 bilhões, cujos contratos terão duração de 15 anos, no caso das empresas de ônibus, e de 7 anos, no das cooperativas de vans.O prefeito promete um novo modelo para esse serviço, que divide a cidade em três lotes, em vez dos oito atuais, e a inclusão do sistema GPS nos validadores das catracas. Com essas medidas se pretende assegurar um controle financeiro mais rigoroso e melhorar o atendimento em tempo real. Dois outros pontos importantes são a construção de 150 km de novos corredores, de outros 150 km de faixas exclusivas e de mais 12 terminais e a reorganização das linhas de ônibus, com veículos confortáveis - e não com os verdadeiros vagões de gado atualmente em uso.Os trajetos devem ser escolhidos, evidentemente, de acordo com o interesse dos usuários e não das empresas, como acontece hoje com um grande número deles. Daí a resistência das empresas a essa medida - essencial para a melhoria do serviço -, há muito prometida e nunca executada. Não vai demorar para saber se Haddad resistirá à pressão das empresas ou se cederá a ela, como fizeram seus antecessores nas últimas décadas.