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O relatório da inflação não menciona o laxismo do BC

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Por Redação
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No capítulo da inflação, o Banco Central (BC) deixa de lado sua responsabilidade, por ter assumido nos últimos meses do ano uma posição bastante laxista.Começou por dar prioridade à análise da conjuntura, ao seu índice (o IBC-Br), com isso, apesar dos sinais de retomada da inflação, usou a queda da atividade econômica como pretexto para não elevar a taxa básica de juros. Num segundo tempo, foi o uso de outros instrumentos de política monetária (restrição ao crédito) o pretexto para adiar uma revisão da Selic que, pelo Relatório de Inflação de dezembro, não deverá ser mais adiada na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).O BC reconhece que a inflação voltou a subir neste ano, com o IPCA no acumulado do ano chegando a 5,2%. Não podemos menosprezar as dificuldades que as autoridades monetárias enfrentaram para tentar manter a inflação em 4,5%, que era a meta. Em suma, a economia brasileira viveu acima dos seus meios. Criou-se um poder aquisitivo artificial com aumento de salários (especialmente para os funcionários públicos), que não foi acompanhado por ganhos de produtividade; o déficit público contribuiu para aumentar a liquidez, que favoreceu o crescimento exagerado do crédito para as pessoas físicas e um sistema de subsídios para a indústria nacional (via BNDES), sem chegar a aumentar, como seria desejável, a Formação Bruta de Capital Fixo, que ficou muito abaixo do que seria necessário para acompanhar o crescimento atual do PIB. A pressão da demanda doméstica foi atendida graças a um aumento das importações que desequilibrou as contas externas, enquanto o pleno emprego já se transforma em fator inflacionário.Ao analisar as perspectivas da inflação, os autores do relatório mostram-se bastante prudentes, com 5,9% para o IPCA em 2010 (projeção central), 4,8% em 2011 e 4,5% somente em 2012. Não menosprezam, porém, as incertezas que vêm nessa projeção. Estão dando prioridade à evolução dos preços das commodities e à elevação dos preços no atacado, que acarretam importante repercussão sobre os preços dos serviços. Fazem um ato de fé na vontade do governo de atingir o superávit primário incluído na Lei das Diretrizes Orçamentárias. Parece-nos, no entanto, que não estão levando na devida conta uma possível desvalorização do real, que teria forte impacto sobre os preços dos produtos importados.A questão é saber se um dia não caberá ao Copom rever sua política monetária para que a Selic não impeça captação de recursos de longo prazo.