Imagem ex-librisOpinião do Estadão

O risco de uma recaída global

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

O Brasil também será afetado pela piora das condições globais e por isso a sua economia crescerá 3% este ano, em vez dos 3,6% previstos em setembro, segundo a nova projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI). Com a estagnação no mundo rico, o comércio será prejudicado e cairão os preços dos produtos básicos, principais fatores de sustentação do superávit comercial brasileiro no ano passado. A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que mantêm a previsão de um crescimento econômico superior a 4% em 2012, deveriam dar mais atenção às condições do comércio internacional e à saúde das contas externas. As estatísticas do Banco Central apontam para um déficit de US$ 56,2 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos em 2011 e todas as projeções para 2012 indicam um rombo maior. O objetivo central do governo é um ritmo de atividade suficiente para manter baixo o desemprego e continuar ampliando o mercado de consumo, usando para isso, se necessário, um novo afrouxamento das condições de crédito. Mas essa política resultará em maior demanda de importações, em redução do superávit comercial e em novo aumento do buraco na conta corrente, se as condições da oferta interna continuarem desfavoráveis. As desvantagens competitivas do produtor brasileiro são bem conhecidas e incluem muito mais que a valorização cambial. Os economistas do FMI projetam para este ano preços do petróleo 4,9% menores, em média, que os de 2011. Para o conjunto das outras commodities, a queda prevista é muito maior - de 14%. Novas quedas são estimadas para 2013 e isso é especialmente ruim para o Brasil, hoje muito dependente da receita cambial obtida com a venda de commodities. Mas isso é apenas parte do problema, porque a indústria brasileira concorre em desvantagem no exterior e também no mercado interno. Se o cenário previsto pelos economistas do FMI se confirmar, a dependência do Brasil em relação ao mercado chinês aumentará - em condições piores que as dos últimos anos, por causa da depreciação dos produtos básicos. Os técnicos do FMI reduziram de 4% para 3,25% o crescimento do produto global estimado para este ano. O pior desempenho será o da zona do euro, embora a contração econômica de 0,5% prevista para 2012 seja descrita como uma "recessão suave". A projeção para os EUA é a mesma de setembro, uma expansão de 1,8%, impulsionada pela reativação do consumo iniciada no final de 2011 e por algum investimento em máquinas, equipamentos e instalações. Os emergentes perderão impulso, principalmente por causa do agravamento do quadro europeu, e o crescimento chinês deverá ficar em 8,2%, cerca de 1 ponto abaixo do estimado para 2011. Qualquer enfraquecimento maior da economia chinesa pode ser muito custoso para o Brasil. Mesmo o baixo crescimento global previsto para 2012 poderá não se concretizar, advertiu a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, numa palestra em Berlim. Aquela projeção, segundo explicou, foi baseada na hipótese de adoção de algumas medidas corretivas pelos governos. Se os políticos continuarem demorando a tomar as providências necessárias, o quadro real poderá ser pior que o novo cenário traçado pelos economistas do FMI. A advertência vale especialmente para os europeus, mas também para os americanos. Não há novidade nas medidas propostas pelo FMI e também isso evidencia as dificuldades políticas de implementação das ações: ajuste imediato nos países com situação fiscal muito ruim, estímulo ao crescimento naqueles com algum espaço para um ajuste mais lento, afrouxamento monetário e maior integração no tratamento das questões de finanças públicas. Isso envolve tanto o fortalecimento do fundo europeu de resgate quanto a emissão de papéis de responsabilidade coletiva, os chamados eurobônus ou algo parecido. A longo prazo, será indispensável a adoção de padrões coletivos de responsabilidade fiscal, condição essencial para o sucesso da união monetária. Reformas para tornar as economias europeias mais flexíveis também são necessárias. As medidas anunciadas pelo novo governo italiano vão nessa direção. Não há nada inevitável nas previsões do FMI, observou Lagarde. Basta os políticos fazerem o necessário.