
05 de junho de 2011 | 00h00
A expansão de 1,3% no período janeiro-março foi maior que a do trimestre anterior, 0,8%. Mas a tendência parece ter sido interrompida. Os dados parciais conhecidos até agora apontam um crescimento mais moderado a partir de abril, com pequena redução do uso da capacidade das fábricas. Qualquer expansão econômica entre 4% e 5% será satisfatória, neste ano, exceto se os preços ao consumidor voltarem a subir rapidamente. A inflação arrefeceu um pouco, nas últimas semanas, mas é cedo para dizer se essa tendência é duradoura.
Um sinal importante será dado pelos acordos salariais de categorias fortemente organizadas, a partir de agosto. Se houver grandes aumentos e o consumo ainda permitir o repasse dos custos adicionais, só um aperto monetário muito mais severo que o dos últimos meses poderá conter a escalada dos preços.
Pelo menos dois bons sinais de ajuste apareceram nas contas do primeiro trimestre. O investimento em máquinas, equipamentos e instalações (incluída infraestrutura) voltou a acelerar-se e aumentou 1,2%. A elevação da capacidade produtiva é uma das condições indispensáveis a um crescimento econômico seguro e duradouro. Em segundo lugar, o consumo das famílias perdeu impulso e aumentou apenas 0,6%. Os brasileiros continuaram comprando mais do que antes, mas expandiram a despesa com certa moderação.
Os consumidores podem ter-se tornado um pouco mais prudentes para evitar o risco do endividamento crescente e também porque o custo dos empréstimos aumentou. Estas explicações são hipotéticas, mas parecem razoáveis. De toda forma, o consumo permanece vigoroso e as torneiras do crédito permanecem razoavelmente abertas, apesar de alguma restrição imposta pelo Banco Central.
Mas o consumo do governo - o custeio dos serviços prestados pela administração pública, em todos os níveis - continuou em expansão, com aumento de 0,8% sobre o trimestre anterior. Isso ocorreu apesar do contingenciamento de gastos adotado pelo governo federal no começo do ano. Os efeitos da restrição foram limitados, portanto, e o custeio, já se sabe, se manteve em crescimento nos meses seguintes. O resultado primário do setor público - o dinheiro separado para o pagamento de juros - tem aumentado muito mais por causa da arrecadação, sempre crescente, do que por qualquer esforço de contenção de gastos. Quanto a isso, tem havido pouco ou nenhum progresso no Brasil.
A despesa pública sempre crescente é o principal obstáculo à expansão da poupança interna. No primeiro trimestre, o Brasil poupou o equivalente a 15,8% do PIB, pouco mais do que um ano antes (15,4%). O capital estrangeiro deu uma contribuição substancial para o investimento chegar a 18,4% do PIB, taxa pouco maior que a do primeiro trimestre de 2010, 18,2%.
Apesar da contribuição externa, o investimento brasileiro continua muito baixo para as necessidades da economia brasileira. Segundo cálculos correntes, seria preciso investir algo em torno de 24% do PIB para garantir um crescimento econômico de 5% ao ano por um longo período.
Sem a aplicação de recursos muito maiores em infraestrutura, instalações, máquinas e equipamentos, a economia brasileira continuará emperrando em gargalos. Seu poder de competição sofrerá com isso e a criação de empregos será prejudicada. Mas o investimento dependerá principalmente da geração da poupança interna e, portanto, de uma eficiência muito maior do governo.
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