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O ‘social’ de Haddad

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Por Redação
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Além do rombo nas contas públicas, já apontado pelo Tribunal de Contas do Município, novos dados sobre setores de importância capital como saúde e educação – obtidos pela reportagem do Estado e na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2016 – também atestam o sofrível desempenho do governo de Fernando Haddad. Como seu mandato já passou da metade – dois anos e meio – e o atraso no cumprimento da maior parte das metas é muito grande, a essa altura parece certo que sua administração está condenada ao fracasso, apesar do estardalhaço de uma autopromoção que os fatos insistem em desmentir.

Os números são implacáveis. De cerca de R$ 1,6 bilhão que deveria ser destinado aos compromissos assumidos na área de saúde, dentro do Plano de Metas, até agora foram gastos apenas R$ 108,9 milhões, ou 6,5%. Os recursos iriam para a construção de hospitais, de Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), a implantação da Rede Hora Certa, a criação de um prontuário eletrônico do paciente da rede municipal e a abertura de Centros de Atenção Psicossocial (CAPs).

Foram 4 UBSs, de um total de 43; 2 CAPs novos e 2 reformados e ampliados; 2 UPAs; 8 unidades da Rede Hora Certa (a entrega de mais 7 está prevista para este mês). A Rede mesmo incompleta permitiu diminuir o número de pessoas que esperam por consultas e exames, que de 679,5 mil em 2012 caiu para 511,8 mil em fevereiro de 2015. A lista de espera para cirurgias, porém, passou de 56,9 mil para 63 mil, um crescimento de 10%. Dos três hospitais prometidos por Haddad durante a campanha eleitoral, apenas o de Parelheiros deverá ficar pronto até o fim de seu mandato. As obras dos outros dois, na Brasilândia e na Vila Matilde, ainda nem começaram.

Como se isso não bastasse, a situação das unidades de saúde em funcionamento também não é boa, principalmente por falta de profissionais. A Prefeitura reconhece que há um déficit de 1.100 médicos e que deve contratar, de imediato, 620. Não admira que o Hospital Vereador José Storopolli, na zona norte, enfrente problemas como falta de leitos, pacientes em macas e poltronas nos corredores e falta de equipamentos para a atender à demanda por radiografias e ultrassonografias.

O que se passa na educação não é muito diferente. Dos 20 Centros Educacionais Unificados (CEUs) que Haddad se comprometeu a entregar até 2016, apenas 1 ficou pronto até agora. Com isso, ele dificilmente escapará de se tornar o prefeito que menos construiu esse tipo de escola – Marta Suplicy 21 e José Serra e Gilberto Kassab, juntos, 24. Com uma agravante no seu caso – os CEUs por ele projetados são menores e mais baratos. E das 243 creches previstas, somente 34 ficaram prontas.

Os CEUs são um projeto polêmico. Caros, não podem ser oferecidos à toda a população em idade escolar. Por isso, há especialistas que, já por ocasião de seu lançamento, advertiram que o certo seria os recursos neles gastos serem empregados para a melhoria da rede de ensino tradicional. A rigor, a cidade não perderia grande coisa com o não cumprimento das promessas do prefeito, desde que o dinheiro a eles prometido vá para as atuais escolas, o que infelizmente não acontecerá. Em resumo, também nesse caso a ação do atual governo deixa muito a desejar.

Além de o desempenho medíocre em áreas sensíveis como a saúde e a educação constituir um grave prejuízo para a população – e isto é o mais importante –, deve-se considerar também que ele mostra a distância entre a pregação de Haddad e de seu partido, o PT, em favor do “social” e a sua ação concreta. Sem saúde e educação bem cuidadas, o “social” não passa de uma palavra vazia, de pura demagogia.

Esse é o melhor retrato do governo Haddad, que, em vez de investir no que interessa de fato aos paulistanos, em especial os de baixa renda, passa o tempo a fazer brilhareco com ciclovias mal concebidas e outras invencionices.