Imagem ex-librisOpinião do Estadão

O terror em Londres

Depois de Madri, Paris, Nice, Berlim e Bruxelas, o ataque à capital britânica mostra que a Europa continua sendo o alvo preferido do terrorismo

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

O atentado em Londres, uma das cidades mais bem protegidas do mundo contra esse tipo de ação – que deixou 4 mortos e 40 feridos –, vem confirmar, mais uma vez, que o difícil combate contra o terrorismo ainda vai durar muito tempo. Depois de Madri, Paris, Nice, Berlim e Bruxelas, o ataque à capital britânica mostra que a Europa continua sendo o alvo preferido do terrorismo, o que exige uma cooperação cada vez mais intensa entre os serviços de segurança de seus vários países.

Um homem com um carro comum e armado apenas com uma faca, avançou sobre os pedestres na Ponte Westminster e só parou ao se chocar contra as grades do edifício do Parlamento. O terrorista, Khalid Masood, tentou entrar no Parlamento – que naquele momento estava reunido para a sabatina semanal da primeira-ministra Theresa May –, matou a facadas um policial e foi morto em seguida. O local foi escolhido a dedo. Como disse May, “os terroristas optaram por atacar o coração de nossa capital, onde pessoas de todas as nacionalidades, religiões e culturas se reúnem para celebrar os valores da liberdade, da democracia e da liberdade de expressão”.

Além da indignação e da dor, o outro sentimento que predomina é o do espanto de ver, outra vez, como o emprego de meios rudimentares, ao alcance de qualquer um disposto a se sacrificar, tomado pelo fanatismo, pode produzir uma tragédia como essa, e num local para o qual logo se voltam os olhares em todo o mundo.

O novo ataque terrorista em Londres repete a tática simples inaugurada em Nice, no sul da França, no ano passado, também numa data escolhida a dedo, 14 de julho, data nacional daquele país, para chamar a atenção. Um caminhão dirigido por um terrorista avançou sobre a multidão – na qual, tal como em Londres, havia muitos turistas estrangeiros – e deixou um saldo de 84 mortos. Meses depois, em dezembro, foi a vez de Berlim. Ali, o terrorista investiu contra pessoas que faziam compras num mercado de produtos natalinos e matou 12. Em todos esses casos, não foram necessários tiroteios nem explosões, apenas caminhão ou carro com um fanático na direção, disposto a morrer.

São ações de uma desconcertante simplicidade e de uma assustadora eficácia, se comparadas com as dos atentados minuciosamente planejados e executados por grupos treinados contra o World Trade Center, em Nova York – que inaugurou essa nova onda de terror –, uma rede ferroviária em Madri, o metrô de Londres, a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, os ataques em série na mesma cidade meses depois e o aeroporto de Bruxelas, para citar apenas os exemplos mais chocantes. Longe até mesmo das explosões de carros-bomba, mundo afora, que exigem um mínimo de preparação.

Um fanático que adere mesmo de longe à pregação terrorista do Estado Islâmico (EI) – como tudo indica que é caso do de Londres, segundo afirma essa organização em comunicado assumindo a autoria do atentado –, ou mesmo um dos chamados lobos solitários que podem se revelar de um momento para outro, não tem a menor dificuldade para ter acesso àqueles instrumentos rudimentares.

Isso torna o combate ao terrorismo particularmente difícil. Ele passa a depender de serviços de inteligência altamente sofisticados, capazes de localizar aquelas agulhas no palheiro, assim como da disposição dos países que são os principais alvos do terror de coordenarem suas ações. E de estarem armados de sangue-frio e paciência para uma longa batalha.

Rompante como o do secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson – talvez inspirado pelo presidente Donald Trump e seu voluntarismo –, segundo o qual o fim do Estado Islâmico é uma questão de tempo, mesmo que confirmado, não terá efeito na luta contra o terror, ao menos a curto prazo. Derrotado na Síria, o Estado Islâmico certamente apelará para a multiplicação dos atos de terror.