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O tombo da economia

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Por Redação
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A economia brasileira levou um tombo no fim de 2008, o maior dos últimos 12 anos, e o susto ainda não passou. A produção do quarto trimestre foi 3,6% menor que a do terceiro, quando a indústria ainda operava com vigor, os consumidores aproveitavam o resto da prosperidade e o governo alardeava a resistência do Brasil à crise internacional. No mundo real, o otimismo se esgotou rapidamente, muito mais do que em Brasília, e o fraco desempenho da indústria neste início do ano impede a melhora das expectativas. As previsões de crescimento em 2009 têm piorado. No mercado financeiro, a projeção caiu de 1,5% para 1,2% nas últimas duas semanas. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) vai divulgar nova estimativa dentro de poucos dias e o número será muito próximo de zero, avisa o economista-chefe da instituição, Flávio Castello Branco. Nesta altura, não tem sentido festejar o crescimento da produção acumulado em 2008, 5,1%. Esse número pertence irremediavelmente ao passado, porque não indica nenhuma tendência para 2009. O dado relevante é a queda abrupta da atividade econômica. O pior desempenho foi o da indústria, com produção 7,4% menor que a do terceiro trimestre. Esse detalhe é especialmente ruim, porque o setor industrial, embora com peso estatístico menor que o de serviços, ainda é o grande motor da economia brasileira e o maior gerador de empregos de qualidade. A reação da indústria observada em janeiro, quando a produção, segundo o IBGE, foi 2,3% maior que a do mês anterior, não vale uma festa. Dezembro foi desastroso e a melhora no mês seguinte dependeu basicamente do corte do imposto sobre carros. O quadro fica mais claro quando se compara o desempenho com o de janeiro de 2008: produção 17,2% menor. Os números da CNI acrescentam detalhes nada animadores: faturamento real 4,3% inferior ao de dezembro, descontado o efeito sazonal, e 13,4% menor que o de janeiro de 2008. O uso da capacidade instalada, 78,4%, foi o menor desde novembro de 2003. Os números do Produto Interno Bruto (PIB) mostram mais que uma forte retração dos negócios. Houve, no quarto trimestre, uma mudança qualitativa no lado da demanda. A maior queda, 9,8% em relação ao terceiro trimestre, ocorreu na formação bruta de capital fixo, isto é, nos investimentos em máquinas, equipamentos e construções. O consumo privado caiu muito menos, 2%. As exportações de bens e serviços declinaram 2,9%. Já o consumo da administração pública aumentou 0,5%. Esse consumo corresponde ao custo dos serviços prestados pelos governos federal, estaduais e municipais. Algum otimista poderia atribuir essa variação ao aumento dos serviços prestados. Brasileiro informado não comete esse engano: o aumento do custo é certo, a expansão e a melhora dos serviços, não. Em 2009, o contribuinte continuará pagando mais para receber o mesmo - ou menos - do setor público. Os salários do funcionalismo serão mais altos e, se ninguém der o alerta, mais funcionários serão contratados. Apenas será mais difícil continuar aumentando a carga tributária para pagar o custo crescente da máquina governamental. No ano passado, a receita de impostos sobre produtos teve o dobro do crescimento do valor da produção. Uma longa expansão do investimento produtivo foi interrompida nos três meses finais de 2008. Apesar disso, a formação bruta de capital fixo ainda cresceu 13,8% durante o ano e atingiu valor correspondente a 19% do PIB, a taxa mais alta desde o início da nova série das contas nacionais, em 2000. A taxa de poupança ficou em 16,9% do PIB e a diferença em relação ao total investido foi coberta com recursos estrangeiros. A poupança nacional continua dependendo essencialmente do setor privado, porque o governo é basicamente um gastador. Este será um ano ruim para todo o mundo. O Brasil não ficará imune às dificuldades, mas, apesar disso, poderá ter um desempenho melhor, se o governo for capaz de uma ação anticíclica. Até agora, atende aos lobbies com maior competência para obter facilidades, e, além disso, programa ações de efeito eleitoreiro, como a produção de habitações a preço simbólico e consequências fiscais ainda não estimadas. Isso é uma forma de queimar dinheiro, não de estimular a economia.