25 de abril de 2010 | 00h00
O discurso de Obama não elimina a oposição às mudanças em debate no Congresso, mas abre uma nova perspectiva para o debate. Afinal, a maioria dos bancos e de outras instituições de crédito ficou fora dos principais programas de auxílio, cortou custos e operou mais normalmente que os gigantes do setor nos últimos dois anos. Todos poderiam ter sido envolvidos na grande lambança, arrastados pelos parceiros maiores, mas a maior parte deles não teria força suficiente para impor um novo jogo ao mercado.
Uma pesquisa conduzida pela American University e pelo jornal USA Today comparou o comportamento dos bancos incluídos no Tarp (Programa de Alívio de Ativos Problemáticos) com o das demais instituições.
Nos bancos ajudados pelo governo, o saldo dos empréstimos a empresas e pessoas físicas diminuiu 9,1% nos 12 meses terminados em 30 de setembro de 2009. Nos outros, a redução foi de 6,2%. Nos primeiros, o salário médio subiu 9,4% no primeiro ano do programa. Nos demais, apenas 1,8%. Nos incluídos no Tarp, o número de agências cresceu 2,7%. Os outros cortaram 1,2%.
Quem escapou da bolha e ficou longe do generoso auxílio do Tesouro continuou trabalhando normalmente e financiando empresas e consumidores, apesar dos problemas e da necessidade de cortar custos. Quem participou da farra continuou na boa vida ou, pelo menos, numa vida melhor que a dos outros.
O público americano sabe o suficiente para manter um alto grau de indignação com os gigantes de Wall Street mesmo depois de superada a pior fase da crise. Diante disso, dificilmente poderia haver, no Congresso, uma oposição à mudança financeira tão forte e tão ampla quanto foi a resistência à reforma dos serviços de saúde. Os lobbies têm trabalhado, mas a favor de uma causa muito mais difícil de vender à opinião pública.
A impopularidade dos banqueiros, especialmente dos mais poderosos, certamente explica a maior receptividade da oposição às propostas de enquadramento mais severo do setor financeiro. Pode haver divergências quanto a detalhes, mas o apoio republicano ao desenho geral da reforma parecia garantido na quarta-feira.
Uma das novidades da semana foi a aprovação, pela Comissão de Agricultura do Senado, da proposta de um novo esquema de supervisão dos mercados de derivativos. Se convertida em lei, poderá limitar a atuação das grandes instituições em operações ligadas a commodities agrícolas, cortando uma importante fonte de lucros para os bancos. A ideia foi apresentada pela presidente da comissão, a democrata Blanche Lincoln, e apoiada pelo influente republicano Charles Grassley, um dos principais defensores dos interesses dos fazendeiros.
A reforma financeira americana deve impor exigências maiores de capital e de liquidez aos bancos, limitar o tamanho das instituições, forçar maior transparência nas operações, aumentar a proteção aos consumidores e, se der tudo certo, eliminar o velho problema dos bancos grandes demais para quebrar. São, de modo geral, objetivos aceitos no mundo todo. Mas falta ver se a lei americana será inteiramente compatível com as mudanças em estudo nas instituições multilaterais e destinadas a uma reforma global.
Essa preocupação foi manifestada na quinta-feira pelo diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn.
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