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Obama tenta evitar estatização

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Por Redação
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O novo plano de saneamento dos bancos americanos é uma última tentativa do presidente Obama de resolver o problema sem recorrer à estatização. Para isso, governo e investidores privados deverão juntar-se para comprar títulos podres acumulados pelos bancos. Esses papéis, também conhecidos como ativos tóxicos, são créditos dificilmente cobráveis. São restos da farra financeira encerrada há quase dois anos. Valem quase nada, envenenam os balanços e por isso são tóxicos. Enquanto os balanços não forem depurados, os bancos não poderão voltar a emprestar como antes. Para promover essa limpeza, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, preparou um esquema de compra de papéis. O grande objetivo é repor a economia em funcionamento e para isso será preciso normalizar o sistema financeiro. Se der tudo certo, os papéis poderão valorizar-se e sobrará algum lucro para o Tesouro e para os investidores. Se não der, a situação poderá ficar pior do que está hoje. O plano anunciado pelo secretário Geithner pode parecer complicado. De fato, pode ser bem mais complexo do que seria uma intervenção direta, por meio de estatização temporária dos bancos, como se fez na Suécia nos anos 90. A referência mais próxima é a experiência iniciada no Reino Unido no fim de 2008. Lá o governo já assumiu o controle de três bancos, comprometendo-se, em troca, a cobrir suas perdas. Um deles, o Lloyds, é o terceiro maior banco britânico. O esquema anunciado por Timothy Geithner foi batizado oficialmente como Programa de Investimento em Parceria Público-Privada. Dirigentes de duas grandes empresas de gestão de fundos, a Pimco e a Black Rock, já se declararam dispostos a participar. É um bom começo e indica uma possibilidade razoável de sucesso. Se duas grandes administradoras de recursos participarem dos primeiros leilões, outros investidores serão atraídos. Mas alguns pontos do plano ainda não estão bastante claros. Segundo foi explicado, os bancos interessados em se livrar de créditos de baixa qualidade entrarão em contato com a Corporação Federal de Seguro de Depósito. A corporação decidirá se vale a pena levar adiante o negócio e promoverá um leilão público dos papéis. O Tesouro formará, em associação com investidores privados, fundos para a compra dos títulos. Os investidores privados entrarão com uma pequena parcela do dinheiro necessário. O Tesouro cobrirá uma parte igual à dos investidores e o resto será obtido no mercado. Mas o risco ficará quase todo para o governo: cerca de 93%, segundo as informações oficiais. O leilão, na opinião dos mais otimistas, facilitará a definição dos preços dos ativos podres ou tóxicos. Mas isso pode ser wishful thinking. Especialistas têm apontado a fixação de preços desses papéis como um dos principais problemas para quem pretenda livrar os bancos de seus piores ativos. Poderão valer alguma coisa quando a economia se aprumar, o emprego crescer e os devedores puderem liquidar seus compromissos. Mas, até lá, muita gente ficará desempregada e ainda haverá muitos calotes. Não é possível saber quantos, neste momento, e, por isso, é muito difícil dizer quanto valem esses créditos. Como a real situação dos bancos nunca se esclareceu desde o agravamento da crise, o enorme volume de dinheiro até agora posto no mercado pelo Tesouro foi insuficiente para estabilizar a situação. De modo geral, essas injeções de dinheiro serviram apenas para mostrar uma situação pior do que se imaginava. Diante do risco de jogar mais dinheiro num poço sem fundo, o último secretário do Tesouro do governo anterior, Henry Paulson, desistiu de comprar ativos tóxicos e resolveu ajudar os bancos de outra forma. Nada funcionou. O plano recém-anunciado pelo governo Obama retoma, com um desenho mais complexo e mais sofisticado, o esquema inicial do secretário Paulson. Desta vez, a ideia foi recebida mais positivamente no mercado financeiro. Para o governo, é um lance de alto risco. Se der certo, o presidente Obama terá resolvido um grande problema sem ter de negociar apoio político para a estatização. Se der errado, terá comprometido mais dinheiro e perdido tempo, e talvez precise, então politicamente enfraquecido, partir para a estatização dos bancos.