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Os métodos de sempre

Circulam informações de que Temer teria decidido ressuscitar o Ministério do Desenvolvimento Agrário e dá-lo a algum indicado por Paulinho

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Por Redação
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Causa espécie o poder que o deputado Paulinho da Força, líder do Solidariedade, parece ter no governo do presidente em exercício Michel Temer. O parlamentar representa uma bancada de apenas 14 deputados, mas é cortejado por Temer como se fosse capaz de decidir qualquer votação em favor do Planalto. Tendo sido a vanguarda da defesa do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e sendo o personagem notório que é, Paulinho deveria ser mantido a uma distância prudente do gabinete presidencial, mas o sindicalista não só ali parece se sentir em casa, como está à vontade para cobrar participação no governo.

Circulam informações de que Temer teria decidido ressuscitar o Ministério do Desenvolvimento Agrário e dá-lo a algum indicado por Paulinho. Segundo relatou o jornal Valor, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, confirmou a recriação da pasta e Paulinho já teria até um candidato para o cargo, o deputado Zé da Silva (SD-MG), da bancada ruralista.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário foi extinto logo que Temer assumiu a Presidência no lugar de Dilma Rousseff, afastada pela Câmara. O gesto integrava o suposto esforço do presidente em exercício para enxugar a máquina pública, cujo inchaço foi uma das grandes marcas do governo petista.

As funções daquele Ministério, voltado para a reforma agrária e a agricultura familiar, foram incorporadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social. No entanto, já por pressão de Paulinho, Temer transferiu em maio passado cinco secretarias da antiga pasta para a Casa Civil, entre as quais justamente a que lida com reforma agrária, sob a qual funciona o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e a que trata da agricultura familiar. Somadas, as secretarias têm um orçamento de cerca de R$ 1 bilhão.

Os cargos devem ser todos ocupados por indicados por Paulinho, incluindo alguns apadrinhados de José Rainha Júnior, ex-líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra e conhecido baderneiro e invasor de terras, que chegou a ser recebido por Temer em audiência arranjada por Paulinho no mês passado. O ministro Eliseu Padilha esclareceu, como se isso fosse necessário, que a decisão de presentear os amigos do sindicalista com cargos relacionados à reforma agrária foi “política”.

As concessões do Planalto a Paulinho não pararam aí. Um filho do sindicalista, o deputado Alexandre Pereira da Silva, foi nomeado no começo do mês para dirigir a Superintendência Regional do Incra em São Paulo. Sua experiência na área agrícola e fundiária, conforme informa o Solidariedade, limita-se à produção de pimentões em um sítio da família em Jundiaí. Por essa razão, a nomeação de Alexandre foi muito mal recebida por funcionários do Incra, que chegaram a organizar um protesto.

O Solidariedade surgiu em 2013 em meio a várias denúncias de que as listas de apoio à criação do partido haviam sido fraudadas – muitos servidores do Congresso denunciaram que seus nomes apareceram nas fichas sem que tivessem firmado nada, e apareceu até a assinatura de um morto. Esse vício de origem, que demonstra profundo menosprezo pelos padrões morais e éticos e desmoraliza a própria democracia, não é acidental. O Solidariedade age conforme manda o manual do sindicalismo de resultados que está na essência mesma da Força Sindical – e que visa somente a amealhar benefícios para quem tem a carteirinha do sindicato, sempre na base da esperteza e da chantagem.

Assim, Paulinho começa a fincar sua bandeira no Palácio do Planalto depois de fazer ameaças explícitas a Temer. Em maio, julgando-se preterido na formação do governo, o sindicalista sugeriu que poderia até mesmo unir forças com as centrais sindicais petistas para infernizar Temer. “Aí a situação dele complica mesmo”, disse Paulinho na ocasião.

Se realmente decidir restabelecer o Ministério do Desenvolvimento Agrário apenas para acalmar Paulinho, Temer pode até conseguir comprar um pouco de tranquilidade, mas dará um sinal de fraqueza que os oportunistas profissionais seguramente saberão aproveitar.