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Os resultados da Petrobrás

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Por Redação
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A desvalorização do real, apontada como a principal causa para o prejuízo de R$ 3,76 bilhões que a Petrobrás registrou no terceiro trimestre do ano – o terceiro resultado negativo nos últimos cinco trimestres –, apenas deixou mais evidente a fragilidade financeira de uma empresa altamente endividada em moeda estrangeira, dilapidada pelo amplo esquema de corrupção que durante anos sugou seus recursos em benefício de partidos, políticos e dirigentes, utilizada irresponsavelmente para a execução de planos de interesse político do governo e que, aos poucos, vai tentando se recuperar. O que o balanço trimestral da estatal mostra é que, mesmo que sua administração atue com competência e lisura, a recuperação financeira e técnica necessária para recompor sua credibilidade com o mercado e o público ainda demorará.

O dólar mais caro elevou substancialmente a já gigantesca dívida da empresa. Em apenas três meses, a dívida líquida da Petrobrás aumentou R$ 78 bilhões, alcançando R$ 402,3 bilhões. Com isso, a relação entre a dívida líquida e a capacidade de geração de caixa da empresa – indicador conhecido como nível de alavancagem, que mede o excesso de endividamento de uma companhia – alcançou 5,2, ante 4,6 registrado no balanço relativo ao segundo trimestre. Os dois índices são considerados muito altos, e estão acima do nível de 3,5 que a direção da Petrobrás considera adequado para o porte da empresa e sua imagem no mercado.

Recorde-se que, por seu envolvimento pelo amplo esquema de corrupção montado durante a administração do PT, pelos maus resultados que tem apresentado por causa de projetos impostos pelo governo e por suas dificuldades financeiras, a Petrobrás teve seu grau de investimento retirado por agências de classificação de risco. Isso cria dificuldades adicionais para a Petrobrás captar financiamentos externos, já difíceis e caros por conta do alto nível de endividamento.

Ainda assim, ao comentar o balanço do terceiro trimestre, a diretoria da Petrobrás informou que “tem na mesa” ofertas de créditos que somam US$ 25 bilhões de diferentes fontes. Sua contratação, disse a diretoria, será anunciada assim que os interesses da Petrobrás e dos credores chegarem “a um ponto de equilíbrio”. Dada a situação da estatal, resta saber quanto lhe custará esse “ponto de equilíbrio”.

Neste ano, a Petrobrás já obteve US$ 11 bilhões em empréstimos. Com a perda do grau de investimento, porém, que implica aumento do custo dos financiamentos, a empresa tem evitado captações tradicionais e utilizado operações como as chamadas sale and lease back, por meio das quais vende equipamentos, como plataformas de produção de petróleo, e os arrenda em seguida, com opção de recompra.

Para reduzir o nível de endividamento e sua necessidade de captação de empréstimos, a empresa iniciou um programa de venda de ativos. A previsão é de que, até o fim de 2016, as vendas proporcionem recursos de US$ 15 bilhões (em cinco anos, a empresa espera vender US$ 57 bilhões em ativos). Até agora, porém, a receita com esse programa só alcançou US$ 200 milhões. É possível que, até o fim do ano, entrem mais US$ 500 milhões com a venda de ativos, o que incluiu a venda da Gaspetro.

Outra medida para conter a dívida foi a redução dos investimentos. Ao anunciar os resultados do terceiro trimestre, a Petrobrás informou que haverá novo corte nos investimentos neste ano. Inicialmente previsto em US$ 28 bilhões, o programa de investimentos foi reduzido para US$ 25 bilhões em outubro e, agora, foi cortado para US$ 23 bilhões. Isso significa que nem com expressiva redução de 37% dos investimentos prevista no plano de negócios anunciado em junho a empresa está conseguindo cumpri-lo integralmente.

Embora os resultados financeiros continuem ruins, a empresa busca recuperar a competência operacional comprometida pelo esquema de corrupção. Vem reduzindo os custos de extração do óleo e o tempo de perfuração de poços.