Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Panes nas telecomunicações

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Preocupado com a queda da qualidade dos serviços das operadoras de telecomunicações, o governo começa a cobrar delas mais investimentos. Para os usuários que enfrentam problemas cada vez mais frequentes em decorrência de panes nos serviços de telefonia, fixa ou móvel, e de internet, a iniciativa é mais do que necessária. O acúmulo de reclamações na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostra que os usuários estão utilizando o meio de que dispõem para exigir das operadoras que cumpram o que prometeram em contrato, mas a ocorrência mais frequente de problemas, alguns de grande extensão e longa duração, indica que a atuação da agência reguladora não tem sido suficiente para conter a deterioração dos serviços.O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse ao Estado que já entrou em contato com a Anatel para aumentar a fiscalização das empresas telefônicas e cobrar delas providências para que problemas enfrentados pelos usuários não se repitam. Das companhias, o governo está exigindo mais investimentos, em volume que pelo menos acompanhe o crescimento de sua base de clientes.A cobrança é procedente. Um exemplo claro é o da telefonia móvel. No ano passado, enquanto a base de clientes das operadoras aumentou 16,6%, chegando a 202,9 milhões de linhas, os investimentos das empresas diminuíram 2,4%, ficando em R$ 8,3 bilhões. Esse valor é 15% menor do que o pico dos investimentos, de R$ 9,8 bilhões, registrado em 2004. Os investimentos totais das operadoras alcançaram R$ 17,4 bilhões no ano passado, 3,6% mais do que o total investido em 2009, mas 28,1% menos do que os investimentos de 2001. Em 2010, a receita bruta das empresas cresceu mais do que os investimentos, tendo sido 4,2% maior do que a de 2009.O governo identifica no baixo volume de investimentos a causa de panes sucessivas registradas nos últimos tempos. Em pouco mais de um mês, a Intelig, empresa pertencente à TIM, teve três panes. O Speedy, serviço de internet de banda larga da Telefônica, deixou de atender seus assinantes no dia 13 de junho, dois anos depois de a empresa ter sido punida pela Anatel, que a impediu de vender os serviços por um determinado período, em razão de pane em seu sistema. A Nextel teve problemas no Rio de Janeiro, no dia 10.No momento, o que preocupa o governo é o risco de a perda de qualidade dos serviços de telecomunicações afetar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que tem como meta ofertar banda larga de 1 megabit por segundo a R$ 35 por mês em todos os municípios brasileiros.Para o ministro Paulo Bernardo, as empresas precisam melhorar a gestão e investir mais não apenas para evitar a deterioração dos serviços que prestam aos usuários, mas também para atender à demanda crescente, como decorrência do aumento do poder aquisitivo da população. "As pessoas querem o serviço, mas não querem só telefone; querem internet junto, seja telefone fixo ou móvel", exemplificou.As operadoras não aceitam as críticas do governo. Alegam que os problemas ocorridos nos últimos meses são localizados e que têm investido o suficiente para assegurar a expansão de sua base de assinantes sem perda de qualidade do serviço. Apontam três motivos para os investimentos crescerem menos do que o número de clientes. Graças à evolução tecnológica e à queda da demanda nos países industrializados, os equipamentos estão ficando mais baratos, dizem elas. O câmbio permite que, com a mesma quantidade de reais, se comprem mais equipamentos importados. Por fim, dizem que os investimentos maiores são feitos no momento da instalação da rede, não na sua expansão, como agora.Para o presidente da Associação dos Engenheiros de Telecomunicações, Ruy Bottesi, a infraestrutura não está preparada para suportar o ritmo de crescimento e as operadoras só investem depois que o sistema está congestionado. Quaisquer que sejam as razões, os serviços estão piorando, o que mostra a necessidade de uma ação mais eficaz do governo e da Anatel.