
26 de outubro de 2012 | 03h10
A presidente gastou a maior parte de seu discurso falando em fortalecimento da cadeia produtiva e em redução de importações. A indústria brasileira, segundo ela, tem de ser mais que montadora. Um dos alvos principais da política deve ser, portanto, o conjunto dos fabricantes de componentes. A importância da inovação também foi realçada na fala presidencial. Mas há um evidente descompasso entre a política adotada ao longo do ano - centrada na redução temporária do imposto - e os objetivos de reforço estrutural. O governo continua seguindo uma política meramente conjuntural, para desatolar a indústria, e ações de maior alcance poderão ocorrer a partir do próximo ano, com a implantação do novo regime automotivo. Também a eficácia desse regime é discutível, mas a preocupação imediata da presidente e de sua equipe é obviamente com o baixo dinamismo exibido agora pela indústria.
A insistência no corte do IPI como estratégia básica de curto prazo revela uma falha de percepção. O benefício fiscal concedido ao setor automobilístico teve efeito limitado. Animou o mercado de veículos, mas sem reflexo importante em outros segmentos. O setor de eletroeletrônicos, também beneficiado, reagiu ao estímulo, mas o efeito da política, nesse caso, foi igualmente limitado. A indústria de transformação continua emperrada, sem sinal de crescimento em 2012.
Algumas das projeções correntes no mercado indicam um resultado negativo neste ano. Em seu último informe conjuntural, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) incluiu a estimativa de uma contração de 1,9% neste ano. No mercado financeiro, o cálculo é de uma queda de 2% para o conjunto da produção industrial em 2012, seguido de um crescimento de 4,2% em 2013. Se esta previsão se confirmar, o resultado ainda será muito modesto, depois de dois anos ruins para o setor industrial.
A presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores da área econômica gastariam melhor o seu tempo, muito provavelmente, se tentassem descobrir por que a maior parte da indústria continuou estagnada pelo segundo ano, apesar dos seguidos estímulos ao consumo e dos benefícios a alguns segmentos da produção manufatureira. Os diagnósticos formulados até agora são obviamente errados, ou, na melhor hipótese, muito incompletos. Terapias ineficientes são uma consequência previsível desses diagnósticos.
Igualmente equivocada é a ideia de usar a redução de um imposto, juntamente com a contenção de alguns preços (o da gasolina, por exemplo) para frear a inflação. Truques desse tipo servem no máximo para controlar o índice durante algum tempo, mas são inúteis para eliminar ou reduzir os focos inflacionários.
Se imposto fosse causa de inflação, seria possível levar a sério esse tipo de política. Nenhuma pessoa razoavelmente informada pode acreditar nessa tolice. Da mesma forma, é um erro perigoso prejudicar o fluxo de caixa da Petrobrás e comprometer sua capacidade de investimento para tornar menos feio o índice de inflação. É cada vez mais preocupante a insistência em políticas desse tipo.
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