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Para entrar no jogo mundial

Brasil continua a ser uma das economias mais fechadas e menos integradas no mercado global

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Por Redação
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Mais de 200 anos depois da abertura dos portos, um dos primeiros atos políticos de d. João VI ao se instalar no Rio de Janeiro, o Brasil continua a ser uma das economias mais fechadas e menos integradas no mercado global. Mas há pelo menos uma boa notícia a respeito do assunto. O governo está disposto a buscar a integração, garante o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Marcello Estêvão. O País, segundo lembrou, é uma das dez maiores potências econômicas, mas ocupa o 24.º lugar no comércio exterior, pela dimensão de suas exportações e importações. Ele falou sobre a nova política em evento sobre o Mercosul organizado pela Fundação Getúlio Vargas.

A ocasião foi apropriada para se tratar de inserção nas cadeias produtivas internacionais. A integração competitiva no sistema global foi um dos objetivos do bloco formado, nos anos 1990, por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Mas essa meta foi substituída, a partir de 2002, pelo embolorado terceiro-mundismo implantado nas duas maiores economias desse conjunto. O secretário evitou, polidamente, explorar detalhes da cômica e desastrosa diplomacia comercial adotada a partir da aliança entre o lulismo e o kirchnerismo.

Um dos primeiros efeitos dessa aliança foi o sepultamento da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Sem o Mercosul, muitos países latino-americanos concluíram acordos com os Estados Unidos e com outros parceiros desenvolvidos e, além disso, desenvolveram novos projetos, como o da Aliança do Pacífico, formada por Chile, Peru, Colômbia e México.

Liquidada a Alca, só restou ao Mercosul uma negociação realmente ambiciosa, a de um acordo de livre comércio com a União Europeia. Lançada em 1995 e iniciada em 1999, essa discussão continua, depois de muitos impasses. Segundo Estêvão, há possibilidade de um acordo, finalmente, no primeiro semestre deste ano.

Talvez seja uma avaliação otimista, porque ainda há restrições dos dois lados. Do lado europeu, a resistência é das organizações agrícolas e de alguns governos. A novidade positiva é a disposição, aparentemente forte, manifestada pelos governos argentino e brasileiro de alcançar o entendimento com a União Europeia.

Nenhum grande acordo comercial foi fechado pelo Brasil, lembrou o secretário, desde a constituição do Mercosul. De fato, o bloco só colecionou uns poucos acertos comerciais com parceiros latino-americanos e com mercados extrarregionais, na maior parte dos casos, fora do mundo avançado.

Foram concluídos tratados de livre comércio com Egito e Israel e acordos preferenciais com Índia, União Aduaneira da África Austral (Sacu) e Egito. Há parceiros maiores e mais desenvolvidos, como Canadá, Japão e Coreia do Sul, em outros acertos ainda em fase inicial de conversações.

Sem acordos com mercados da primeira divisão internacional, o Mercosul também falhou na própria consolidação como zona de livre comércio e de produção integrada. Os governos da Argentina e do Brasil começaram, na fase pós-kirchnerista e pós-petista, a limpar o entulho do protecionismo intrarregional e a discutir formas de retomar o projeto original de criação de um verdadeiro mercado comum.

A mudança é promissora e, pela fala de Estêvão, a nova orientação parece bem estabelecida no governo. Para implantá-la de forma consequente é preciso remover velharias típicas dos anos 1950, como barreiras comerciais excessivas, políticas de substituição de importações e preferências a conteúdo nacional. Desperdício de recursos, baixa produtividade e qualidade de vida abaixo das possibilidades têm sido efeitos dessa estratégia anacrônica. Mas a busca de integração nas cadeias globais deve envolver uma reorientação geral das políticas públicas. Será preciso consolidar o controle da inflação, reconstruir as finanças públicas, avançando na pauta de reformas, elevar o investimento produtivo e cuidar da educação com seriedade e empenho nunca vistos no desastroso período petista.