28 de abril de 2015 | 02h05
Tanto pelo aprofundamento das medidas que já vinham sendo tomadas para enfrentar o problema como pela maneira franca e direta de expor a verdadeira e difícil situação, em especial a da capital e da Grande São Paulo, a atuação do novo secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga, e de Jerson Kelman, presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) - técnicos renomados, nomeados pelo governador Geraldo Alckmin, respectivamente em meados de dezembro e início de janeiro -, trouxe importantes mudanças cujos resultados já se fazem sentir.
"Tomaremos medidas duras, difíceis", anunciou Kelman logo depois de assumir seu cargo, com uma franqueza que foi bem aceita pela população. E completou depois, admitindo explicitamente o que já era sabido, isto é, a existência de um racionamento de fato: "Racionamento é algum tipo de restrição do uso de água. É claro que nós temos. Se nós reduzimos 30% da produção, tem alguma restrição. Agora, há várias formas de racionamento. Uma delas é o rodízio. Outra é a redução da pressão. Nós não estamos em rodízio, que é muito pior do que o que fazemos hoje".
A forma mais dura de rodízio, aventada como hipótese para enfrentar a situação, se ela continuasse a piorar - quatro dias sem água para dois com água -, traria de fato sofrimento muito maior para a população, comparado com o das restrições em vigor, por piores que sejam os incômodos que elas acarretem. As chuvas e o rigor mantido pelas autoridades para reduzir o consumo afastaram, pelo menos por enquanto, o rodízio.
Seria de todo conveniente que o governo aproveitasse essa trégua para tomar as providências que se impõem para prevenir uma nova crise ou, pelo menos - já que um de seus elementos, as chuvas, escapa a seu controle -, tentar limitar os seu efeitos. A primeira delas, que ataca a raiz do problema, é cumprir rigorosamente o programa de obras emergenciais, destinadas ao mesmo tempo a aumentar a oferta de água e a aproveitá-la da melhor maneira possível. Um exemplo é o projeto da Sabesp para ampliar em 36% a captação de água prevista no futuro Sistema São Lourenço, que há um ano está em construção no Vale do Ribeira, obra orçada em R$ 2,2 bilhões e executada por meio de Parceria Público-Privada (PPP). Esse acréscimo permitirá tirar mais 500 mil pessoas da cobertura do Sistema Cantareira e facilitar a sua recuperação.
Outras medidas complementares poderão, juntas, exercer um papel importante. Entre elas está a de reduzir as perdas de água do sistema da Sabesp, um esforço no qual ela está empenhada há anos. É preciso redobrá-lo, porque as perdas em São Paulo, de 24,4%, são muito elevadas pelos padrões internacionais. É bem mais barato investir na diminuição de perdas do que no aumento da oferta.
Outro ponto no qual também estamos em má posição com relação a outros países é o de reúso de água, ou seja, o tratamento de água já utilizada para o seu reaproveitamento principalmente pela indústria. Os progressos nesse setor são tão grandes que já é possível até mesmo, embora em níveis ainda limitados, o reaproveitamento para consumo humano.
Finalmente, um efeito benéfico da crise, se se pode dizer assim, é a disposição mostrada pela população para economizar água como forma de evitar o sacrifício do racionamento. Essa é uma tendência que precisa ser incentivada por campanhas de esclarecimento - a água será cada vez mais um bem raro, ou pelo menos não abundante como antes - e por estímulos materiais, como o sistema de descontos criado, que deveria se tornar permanente.
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