
23 de março de 2011 | 00h00
De fato, a última pesquisa Datafolha mostra que Kassab enfrenta o maior índice de rejeição pelo eleitorado paulistano desde que se reelegeu, em 2008: 43%, contra apenas 29% na soma dos que avaliam seu governo como ótimo e bom. Uma queda de 8 pontos em quatro meses, enquanto o índice de avaliação de ruim e péssimo aumentou 12 pontos.
Toda a retórica que cercou o advento do novo partido parece ter tido, em primeiro lugar, a intenção de demonstrar o que o PSD não será. Para começar, não será de esquerda nem de direita. Não será integrante da base parlamentar do governo federal petista, mas também não será oposição ao governo de Dilma Rousseff. Não será adversário do governo tucano de São Paulo, mas também não fará oposição a Geraldo Alckmin. Não será absorvido, mais à frente, como se chegou a anunciar, por outros partidos. Por exemplo, o PMDB ou o PSB, com os quais negociações anteriores malograram. Kassab, aliás, foi enfático em sua versão desses acontecimentos: "Não faremos fusão. Fomos convidados por duas legendas, por dirigentes respeitados, o PSB e o PMDB. Vamos caminhar com nossas próprias pernas nas eleições municipais do ano que vem, coligados ou com candidatura própria". Quer dizer, não deixará de se aliar a quem for necessário.
Tarefa um pouco mais difícil é descobrir o que o PSD pretende ser. Segundo Kassab, uma vez que "esquerda e direita não existem mais na política brasileira", o seu partido "nasce independente", o que não quer dizer muita coisa. Será, é claro, "social democrata", o que muitos outros afirmam ser. Mas nem os 12 pontos anunciados como base para o programa a ser elaborado colaboram para tornar um pouco mais nítida a identidade do novo partido, já que se trata de proposições das quais é praticamente impossível alguém discordar. Por exemplo, liberdade de imprensa, promoção da igualdade social, respeito aos cidadãos pagadores de impostos, reforma trabalhista, defesa do livre comércio, etc. Tampouco ajudam as pérolas proferidas pelos dois mais graduados apoiadores de Kassab, igualmente retirantes do DEM. O ex-governador Claudio Lembo manifestou sua "alegria de criar um novo partido que não traz os vícios dos partidos do passado". Já o vice-governador Guilherme Afif Domingos, que terá a responsabilidade de chefiar o grupo que vai preparar o programa partidário, não deixou por menos: "Nós não nascemos para ser contra, nós nascemos para ser a favor do povo e do desenvolvimento brasileiro". Discordar, quem há de?
Enfim, pode ser até que o novo PSD venha a se tornar útil às ambições eleitorais de Kassab e de seus companheiros. Mas, quando se contempla a perspectiva da contribuição que a nova legenda poderá dar ao aprimoramento do cenário institucional brasileiro, é inevitável concluir que a nova legenda se apresenta apenas como a promessa de mais um partido "macunaíma", isto é, sem nenhum caráter. Coisa de que, definitivamente, o País não precisa.
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