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Perdendo mercados na AL

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Por Redação
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A indústria brasileira continua perdendo mercado na América Latina, principal destino de suas exportações de manufaturados. Até na Argentina, o maior parceiro no Mercosul, fabricantes de outros países vêm tomando espaço antes ocupado por empresas do Brasil. A invasão ainda é liderada pelos chineses, mas é cada vez mais importante a presença de produtores de outras nacionalidades. Empresas de países emergentes, como Turquia e México, também têm aumentado sua presença na região, assim como companhias do mundo rico. É cada vez mais difícil - e irrealista - atribuir os infortúnios das empresas brasileiras às condições de competição da indústria chinesa, como o câmbio depreciado e os custos muito baixos e pouco transparentes. As dificuldades principais são de outra natureza e quem quiser observá-las deve olhar para dentro do País, em vez de buscar culpados no exterior. Estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por solicitação do jornal Valor, lançou mais luz sobre o grande problema comercial da indústria brasileira, tornou alguns detalhes mais visíveis e, afinal, confirmou um diagnóstico bem estabelecido há algum tempo. O produtor instalado no Brasil tem perdido competitividade. Mesmo quando consegue aumentar as vendas, sua participação no mercado pode diminuir, porque os concorrentes avançam mais rapidamente na exploração de oportunidades. No primeiro semestre deste ano, as vendas brasileiras para o Peru foram 2,7% maiores que as de um ano antes. Aumentos muito maiores foram conseguidos por China e Japão (25%), México (25%) e Alemanha (cerca de 50%), segundo informações da Comissão de Promoção para Exportação e Turismo, do Peru, citados na reportagem.A valorização do real, mencionada frequentemente por empresários e até por técnicos da CNI, explica apenas parcialmente as dificuldades enfrentadas pelos fabricantes brasileiros fora do País e também no mercado interno. De fato, o câmbio valorizado encareceu o produto nacional durante alguns anos. A valorização decorreu de vários fatores, como o excesso de dólares no mercado internacional e as oportunidades de lucro abertas no Brasil ao aplicador estrangeiro. Mas o real desvalorizou-se amplamente desde o trimestre final do ano passado e as exportações brasileiras continuaram emperradas e chegaram a encolher nos últimos meses.O problema, portanto, vai muito além do câmbio, embora alguns empresários continuem reclamando uma desvalorização maior. O dólar é hoje cerca de 15% mais caro do que em novembro do ano passado. A variação supera com folga 20%, quando a comparação se refere a momentos de maior valorização do real, quando a cotação da moeda americana oscilou entre R$ 1,50 e 1,60. Qual seria o câmbio que satisfaria o industrial brasileiro? Há quem mencione a cotação de R$ 2,60 por dólar. Levar a sério essa reivindicação seria um grande erro.Quem atribui o poder de competição da indústria chinesa principalmente ao câmbio comete um grave engano. Esse fator é importante, mas é preciso levar em conta, entre outros fatores, a infraestrutura disponível nas áreas industriais da China, a oferta de mão de obra em condições de trabalhar nas fábricas, a incorporação de avanços tecnológicos e a qualidade do sistema tributário. Da mesma forma, é preciso considerar vários outros fatores, além do câmbio, para entender as vantagens competitivas de outros países, tanto emergentes quanto desenvolvidos.A perda de espaço nos mercados latino-americanos começou há alguns anos. Os brasileiros deveriam ter dado atenção ao sinal de alerta muito mais cedo. Só no ano passado, teria vendido à América Latina US$ 5,5 bilhões a mais, se a sua participação fosse a mesma de 2008. Fatores políticos, como os acordos especiais com a Argentina, também afetaram o comércio. Não só o custo Brasil prejudica a economia nacional. Também a diplomacia em vigor a partir de 2003 impõe custos irracionais ao Brasil, porque submete os interesses comerciais a preconceitos ideológicos, a objetivos partidários e a fantasias de liderança regional.