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Peso incômodo

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Por Redação
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Depois de ouvido por 19 integrantes da Executiva Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT), o deputado estadual Luiz Moura teve sua filiação partidária suspensa e não poderá se candidatar à cadeira que ocupa na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Ele foi flagrado por investigadores da Polícia Civil paulista que, no curso de uma investigação sobre queima de ônibus na capital, invadiram uma reunião de representantes de cooperativas de coletivos. Segundo as autoridades, participavam do encontro pelo menos nove suspeitos de integrar a quadrilha Primeiro Comando da Capital (PCC) e um foragido da Justiça acusado de ter participado do assalto ao Banco Central em Fortaleza.Segundo o presidente estadual do PT em São Paulo, Emídio de Souza, a ordem no PT é não deixar mais "margem" aos ataques da oposição. "Somos o partido que mais combateu a corrupção no País", disse. "O PT não tem tolerância com coisa malfeita. Se envolver filiado nosso, não temos complacência com ninguém. Somos um partido, queremos um país melhor e temos de dar exemplo dentro de casa do país que queremos construir", completou.Conforme reportagem do Estado, "a suspensão faz parte da nova orientação dada pela cúpula para casos que ponham em risco a imagem da sigla, principalmente em ano eleitoral". A providência seguiu os trâmites obedecidos no caso do deputado federal André Vargas (PR), que foi instado a renunciar a sua cadeira na Câmara Federal, mas, não tendo aceitado a sugestão da direção nacional petista, teve sua filiação suspensa e, como Luiz Moura, ficou sem partido. Vargas, que era vice-presidente da Câmara, é um dos parlamentares envolvidos no esquema protagonizado pelo doleiro Alberto Youssef, acusado pela Polícia Federal (PF), na Operação Lava Jato, de haver "lavado" R$ 10 bilhões de reais. "É a nova direção e nova situação. Não dá para o PT conviver com este tipo de coisa", disse um dirigente petista em São Paulo citado, mas não identificado, na reportagem.Apesar de aparentemente branda, a punição aplicada pelo partido aos dois parlamentares acusados de crimes graves é efetiva. A renúncia aos mandatos os afastaria dos trabalhos parlamentares por apenas seis meses, pois eles teriam oportunidade de disputar e quase certamente conquistar mais um mandato de quatro anos. Já a suspensão da filiação, de acordo com a legislação vigente, os retirará do próximo pleito. E também livra seus companheiros do ônus de tentar justificar o injustificável em ambos os casos em disputas eleitorais difíceis como serão as de seus candidatos à Presidência, ao governo do Paraná e também ao segundo cargo mais ambicionado pelos líderes petistas: o desejado e nunca conquistado Palácio dos Bandeirantes. A adoção da "tolerância zero" nesses casos retira do caminho de Dilma Rousseff, de Gleisi Hofmann e de Alexandre Padilha dois obstáculos de significativas dimensões a superar na campanha. De acordo com os repórteres do Estado Bruno Ribeiro, Ricardo Galhardo e Daiene Cardoso, "a decisão teve o aval de todas as correntes do partido e ocorreu após consulta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva".Oxalá essa nova postura seja adotada como definitiva no futuro, não sendo apenas uma decisão pragmática para aliviar o ônus de seus candidatos em eleições. Afinal, a atitude saneadora da elite petista não é coerente com a leniência que a levou a conviver com alguém com a folha corrida de seu militante. Pois foi essa mesma direção partidária que agora o condena que aceitou a filiação no PT de Luiz Moura, que assaltou supermercados no Paraná e em Santa Catarina, foi condenado, preso e não cumpriu toda a pena que deveria ter cumprido porque fugiu da cadeia. Ainda assim, teve a petulância de se declarar "ficha-limpa" em discurso de defesa ante um plenário de colegas que não ousaram contestá-lo. Durante seus três anos e meio na Assembleia, os companheiros de partido conviveram e foram coniventes não só com seu passado, mas também com as atividades que passou a desenvolver. Negligência e complacência levaram o problema que ele criou ao ponto a que chegou.