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Pessimismo já atinge 2017

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Por Redação
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Aproveite o carnaval quem puder, porque 2016 será mais um ano muito ruim e a recuperação só começará, muito devagar e com muita dificuldade, em 2017, segundo as projeções de mercado publicadas ontem pelo Banco Central (BC). Os tropeços do governo, a desorientação da presidente Dilma Rousseff e a piora da imagem da autoridade monetária deixam pouco ou nenhum espaço para qualquer otimismo. Este ano está perdido. O panorama do próximo já reflete o humor cada vez mais sombrio dos analistas. Em um mês passou de 6,87% para 7,26% a mediana da inflação oficial projetada para 2016 pelos analistas independentes. A estimativa para o ano seguinte subiu de 5,20% para 5,80%. Confia-se cada vez menos na promessa do Comitê de Política Monetária (Copom) de levar a inflação à meta de 4,5% até o fim de 2017.

Longe de ser gratuita ou de refletir má vontade dos analistas, a piora da expectativa de inflação é consequência da perda de credibilidade do Copom. A imagem da autoridade ficou seriamente borrada quando o presidente do BC, Alexandre Tombini, indicou uma repentina mudança de rumo na véspera de uma decisão oficial sobre os juros. A manutenção da taxa básica em 14,25%, contra todos os sinais emitidos durante um mês e meio, foi interpretada como nova ingerência da presidente Dilma Rousseff na política monetária. A mediana das expectativas, agora, é de uma taxa de 14,25% no fim deste ano, um ponto abaixo da registrada quatro semanas antes.

A previsão, portanto, é de uma política monetária na direção oposta à da inflação. Não se prevê nem uma alta de preços dentro da margem de tolerância (6,50%) em 2016 nem um resultado próximo da meta (4,5%) em 2017.

A inflação muito alta continuará combinada com um ritmo de atividade muito baixo – mantendo-se, portanto, o quadro de estagflação observado claramente desde 2014. Segundo a pesquisa do BC, a mediana das projeções indica para 2016 mais uma grande contração do PIB, desta vez de 3,01%. Será um resultado desastroso, especialmente depois da catástrofe do ano passado. Para 2017, a expectativa é de uma recuperação de 0,7%, modestíssima, depois de três anos de recessão. Também essa projeção tem piorado. Quatro semanas antes ainda se apostava numa expansão de 1%.

A indústria continuará, segundo as estimativas, como o setor com pior desempenho. Depois de encolher 3,80% em 2016, a produção industrial deverá crescer apenas 1,50% no próximo ano. Também essa taxa é inferior àquela estimada quatro semanas antes (2%).

As únicas projeções positivas, pelo menos à primeira vista, continuam sendo as do balanço de pagamentos. Segundo os analistas consultados, o superávit comercial chegará a US$ 37,90 bilhões neste ano e a US$ 40 bilhões no seguinte. Mas a melhora do saldo comercial e a redução do déficit em conta corrente refletirão, como em 2015, o enfraquecimento da demanda interna – com desemprego, perda de renda das famílias e estagnação industrial – e também a valorização do dólar. Projeções do próprio BC já indicaram novas quedas da exportação e da importação em 2016.

Se as projeções do mercado forem pelo menos aproximadamente corretas, três quartos do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff serão de economia em crise, com baixo ritmo de atividade, inflação muito acima da meta e desemprego elevado. A melhora contábil do setor externo resultará em grande parte da perda de apetite de uma economia enfraquecida. Incapaz até agora de formular uma política diferente daquela seguida, com efeitos desastrosos, nos anos anteriores, o governo só fornece razões para expectativas muito ruins. Não há nada surpreendente no panorama exibido na pesquisa do BC.

Correção: Ao contrário do que informamos no editorial O estrago da greve do INSS (30/1), os peritos médicos tiveram o ponto cortado nos dias de greve. Quanto à jornada de 30 horas semanais de trabalho, ela já existe com base em portarias e decretos e o que reivindicavam é sua consagração em lei.